domingo, 9 de fevereiro de 2025

Santo Anfilóquio - Sobre Evitar o Desespero




Certo irmão, que havia sido vencido pelo pecado da fornicação, encontrava-se diariamente caindo no mesmo pecado. No entanto, a cada dia, chorava e orava ao Senhor, pedindo perdão. Mesmo estando preso nas amarras desse terrível hábito e continuando a cometer o pecado, ele não desistia da esperança de sua salvação. Após pecar, dirigia-se à igreja, onde, ao ver a santa e venerável imagem de nosso Senhor Jesus Cristo, prostrava-se diante dela com lágrimas amargas, dizendo:

“Tem misericórdia de mim, Senhor, e livra-me desta enganosa tentação, pois ela me domina terrivelmente e fere-me com a amargura de seus prazeres. Não sou digno, ó Mestre, de contemplar Tua santa imagem, nem de ver a luz resplandecente do Teu rosto, para que meu coração se fortaleça e se encha de alegria.”

Depois de dizer essas palavras, saía da igreja, apenas para cair novamente no lodaçal do pecado. Contudo, nunca desesperava de sua salvação e retornava à igreja, repetindo as mesmas súplicas ao Senhor compassivo:

“Tomo-Te, ó Senhor, como minha testemunha de que, de agora em diante, não cometerei mais este pecado. Apenas perdoa-me, ó Bondoso, por tudo o que tenho pecado desde o princípio até agora.”

Apesar de fazer esses solenes votos, encontrava-se sempre recaindo no mesmo comportamento pecaminoso. Nisso, via-se a imensa misericórdia e infinita bondade de Deus, que pacientemente suportava as repetidas transgressões e a obstinada desobediência do irmão, esperando por seu arrependimento e por seu firme retorno. Esse ciclo não ocorreu apenas uma ou duas vezes, mas continuou por mais de dez anos.

Irmãos, contemplai a paciência sem limites e a infinita misericórdia do Senhor! Como Ele suporta nossos graves pecados e transgressões! É ao mesmo tempo terrível e maravilhoso considerar as riquezas da misericórdia de Deus, pois o irmão, apesar de prometer não mais pecar, continuamente quebrava suas promessas. E, no entanto, o Senhor nunca o rejeitou.

Um dia, ao cometer novamente o pecado, ele correu para a igreja, chorando, gemendo e implorando ao bom Senhor que tivesse compaixão dele e o libertasse do lodaçal do pecado. Enquanto orava fervorosamente, o diabo, enganador e destruidor das almas, vendo que seus esforços eram inúteis, que aquilo que ele havia semeado pelo pecado estava sendo desfeito pelo arrependimento do irmão, apareceu-lhe visivelmente, sem vergonha. Voltando-se para a sagrada imagem de nosso Senhor Jesus Cristo, exclamou:

“O que tenho eu a ver contigo, Jesus Cristo? Tua infinita compaixão me vence e me humilha, pois Tu aceitas este fornicador, este pródigo, que Te mente todos os dias, desprezando Teu poder. Por que não o destróis, mas, ao contrário, mostras paciência e o suportas? Tu deverias julgar os adúlteros, os fornicadores e todos os pecadores, e ainda assim toleras este que se prostra diante de Ti e o cobres de favores. Por que então os homens Te chamam de justo juiz? Parece-me que mostras parcialidade e negligencias a justiça.”

O diabo, dizendo essas palavras em amarga ira, expelia chamas de suas narinas. Assim que terminou de falar, ouviu-se uma voz vinda do altar, que dizia:

“Ó maligno e amaldiçoado dragão, não te basta a tua perversa intenção de devorar o mundo? Agora queres até mesmo arrebatar este que veio buscar a Minha inefável misericórdia? Como ousas comparar tuas acusações ao precioso Sangue que derramei na Cruz por ele? Eis que Meu sacrifício e Minha morte expiaram suas iniquidades.

"Quando este homem vem pecar, tu não o afastas, mas o recebes com alegria e não o repeles, esperando conquistá-lo. E Eu, sendo misericordioso e compassivo, que ordenei ao Meu principal apóstolo Pedro que perdoasse aqueles que pecam contra ele setenta vezes sete a cada dia, não o perdoarei? Sim, Eu o perdoarei, pois ele vem a Mim. Não o afastarei até que Eu o tenha tomado para Mim. Fui crucificado pelos pecadores e estendi Minhas mãos puras por eles. Todo aquele que deseja a salvação e corre para Mim será salvo. Não rejeito ninguém, nem expulso ninguém, ainda que peque mil vezes num só dia e venha a Mim mil vezes; ele não partirá entristecido. Pois não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento.”

Quando a voz cessou, o diabo permaneceu tremendo, incapaz de fugir. Então, outra voz disse:

“Escuta, enganador, aquilo que dizes — que sou injusto. Eu sou justo para todos. Julgo cada um conforme suas obras. Eis que encontrei este em arrependimento, prostrado aos Meus pés e aparecendo diante de ti como teu vencedor. Portanto, Eu o tomarei e salvarei sua alma, pois ele não desesperou de sua salvação. Observa sua honra, e que tua inveja te consuma e te cubra de vergonha.”

O irmão, prostrado e lamentando, entregou seu espírito, e imediatamente um grande fogo, como ira, desceu sobre Satanás e o consumiu.

Disto, irmãos, aprendamos sobre a imensurável misericórdia e compaixão de Deus e compreendamos quão bom Senhor temos. Nunca desesperemos, nem negligenciemos nossa própria salvação.

Santo Anfilóquio, Evergetinos, Livro I



domingo, 10 de fevereiro de 2019

Declaração de Fé do Cardeal Müller


Declaração de Fé
“Não se perturbe o vosso coração!” (Jo 14, 1)
Diante de uma confusão cada vez mais generalizada no ensino da fé, muitos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos da Igreja Católica pediram-me para dar testemunho público da verdade da Revelação. A tarefa dos pastores é guiar os homens que lhes são confiados pelo caminho da salvação, e isso só pode acontecer se tal caminho for conhecido e se eles forem os primeiros a percorrê-lo. A esse respeito, o Apóstolo advertiu: “Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi” (1Cor 15, 3). Hoje, muitos cristãos nem sequer conhecem os fundamentos da fé, com um crescente perigo de não encontrarem o caminho que leva à vida eterna. No entanto, a tarefa própria da Igreja continua a ser levar as pessoas a Jesus Cristo, a luz dos gentios (cf. LG 1). Nesta situação, alguém se pergunta como encontrar a orientação correta. Segundo João Paulo II, o Catecismo da Igreja Católica representa uma “norma segura para o ensino da fé” (Fidei Depositum IV). Foi escrito para fortalecer os irmãos e irmãs na fé, uma fé posta à prova pela “ditadura do relativismo”[1].

quarta-feira, 4 de abril de 2018

A Descida de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Infernos - Beata Anna Catarina Emmerich


Quando Jesus, com um grito forte, rendeu a santíssima alma, vi-a, qual figura luminosa, acompanhada de muitos Anjos, entre os quais também Gabriel, descer pela terra a dentro, ao pé da cruz. Vi, porém, que a divindade lhe ficou unida tanto à alma, como também ao corpo, pregado à cruz. Não sei explicar o modo porque se passou. Vi o lugar aonde se dirigiu a alma de Jesus; era dividido em três partes, parecendo três mundos e eu tinha a sensação de que tinha a forma redonda e que cada um estava separado do outro por uma esfera. Antes de chegar ao limbo, havia um lugar claro e, por assim dizer, mais verdejante e alegre. Era o lugar em que vejo sempre entrarem as almas remidas do purgatório, antes de serem levadas ao céu. O limbo, onde se achavam os que esperavam a redenção, estava cercado de uma esfera cinzenta, nebulosa e dividido em vários círculos. Nosso Salvador, conduzido pelos Anjos como em triunfo, entrou por entre dois desses círculos, dos quais o esquerdo encerrava os Patriarcas até Abraão e o direito as almas de Abraão até João Batista. Jesus penetrou por entre os dois; eles, porém, ainda não O conheciam, mas estavam todos cheios de alegria e desejo; foi como se dilatassem esses páramos da saudade angustiosa, como se ali entrassem o ar, a luz e o orvalho da Redenção. Tudo se deu rapidamente, como o sopro do vento. Jesus penetrou através dos dois círculos, até um lugar cercado de neblina, onde se achavam Adão e Eva, nossos primeiros pais.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Alocução "Às Meninas da Ação Católica" do Papa Pio XII



ALOCUÇÃO
DO SUMO PONTÍFICE PIO XII

ÀS MENINAS DA AÇÃO CATÓLICA 
[1]

SOBRE A MODÉSTIA E O EXEMPLO
6 de outubro de 1940
(Esta é a hora da juventude católica)
Se amanhã o mundo não desejar permanecer para sempre enterrado na sombra da morte, ele terá que se ocupar em reparar as suas perdas, reconstruir as ruínas. Nesse momento você deve colaborar, Juventude Católica! E que maravilhosos empreendimentos aguardam a sua colaboração! Para reconstruir a sociedade sobre uma base cristã; para pôr em estima e honra o Evangelho e sua moral; para renovar a vida da família, restaurando ao matrimônio a sua coroa – sua dignidade sacramental, e ao marido e à mulher o sentido de suas obrigações e a consciência de sua responsabilidade; para estabelecer em toda a sociedade a noção genuína da autoridade, da obediência, do respeito pela lei, dos direitos e deveres recíprocos do homem. Esse é o seu amanhã.

Alocução "Sobre a Moda" do Papa Pio XII


ALOCUÇÃO
SOBRE OS PROBLEMAS MORAIS
DA MODA

DO SUMO PONTÍFICE PIO XII

Sintomático que os participantes do I Congresso Internacional de Alta Moda, promovido pela União Latina de Alta Moda, se empenhassem por uma audiência pontifícia, e mais, que estivessem desejosos de ouvir a palavra do Papa. Não se esquivou o Pontífice e na ocasião, no dia 8/11/1957, pronunciou um longo e importante discurso, em italiano, o qual damos na tradução da Abadia de Nossa Senhora das Graças:
1. De todo o coração vos damos as boas-vindas paternais, caros filhos e filhas, promotores e associados de “União Latina de Alta Moda”, que desejastes vir à Nossa presença para Nos testemunhar a vossa filial devoção, e ao mesmo tempo, implorar os favores celestiais sobre a vossa União, colocando-a, desde o seu nascimento, sob a proteção d’Aquele para cuja glória deve encaminhar-se toda a atividade humana, mesmo as profanas em aparência, segundo o preceito do Apóstolo dos Gentios: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (I Cor 10, 31). Proponde-vos enfrentar com vistas a desígnios cristãos um problema tão delicado quanto complexo, cujos imprescindíveis reflexos morais foram, em todo tempo, objeto de atenção e de ansiedade para aqueles que, por ofício, na família, na sociedade e na Igreja, esforçam-se para preservar as almas das insídias da corrupção e a comunidade inteira da decadência dos costumes, isto é, o problema da moda, especialmente feminina.

domingo, 24 de setembro de 2017

Encíclica "Diuturnum Illud" do Papa Leão XIII


ENCÍCLICA

DIUTURNUM ILLUD

DO SUMO PONTÍFICE LEÃO XIII

SOBRE A ORIGEM DO PODER CIVIL

Tradução: Dominus Est

Aos Veneráveis Irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, e todos os Bispos do Orbe Católico em comunhão com a Sé Apostólica: sobre a origem do poder civil. 

Veneráveis Irmãos: Saudação e Bênção Apostólica.
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