domingo, 30 de setembro de 2012

Portugal – Brasil: Unidos pelos Templários


"Não cometais injustiça nos vossos julgamentos: não dês vantagem ao fraco e não favoreças o grande, mas julga com justiça o teu compatriota. Não tenhas nenhum pensamento de ódio contra o teu irmão, mas não hesites em repreender o teu compatriota, para não te onerares com um pecado em relação a ele."  (Levítico 19, 15-17)

Quando, em 1319, o rei D. Dinis conseguiu, finalmente, transferir para a Ordem de Cristo todos os bens dos Templários em Portugal, supôs-se que o monarca estivesse não só preocupado com o futuro econômico-financeiro dos templários, mas também profundamente interessado nos conhecimentos empíricos dos seus membros. Séculos de experiência de navegação, principalmente conduzindo cristãos à Terra Santa, fizeram deles peritos no uso de instrumentos como o astrolábio e hábeis conhecedores das rotas marítimas. Tendo dedicado a sua vida a conquista e consolidação do território português, D. Dinis acalentava o desejo de ampliar o seu império além-mar, esperando o momento oportuno e os parceiros adequados para serem concretizadas as suas idéias.


O Infante D. Henrique, quinto filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, tornou-se administrador e governador da Ordem de Cristo em 20 de maio de 1420, contando com valiosos recursos para a concretização de seu sonho ultramarino. D. Henrique era "(...) dado ao desporto e às artes, seu pai confiou-lhe a organização da frota concentrada no Porto, com gentes do Norte e da Beira, para a expedição a Ceuta, tendo reunido 70 navios grandes e muitos outros de abordagem. Destacou-se na conquista da cidade marroquina (1415), onde seu pai o armou cavaleiro com seus dois irmãos mais velhos. (...) A necessidade de navegar por mares batidos por tempestades e sulcados por grossas correntes marítimas, que arrastaram até às Canárias navios encarregados da defesa costeira meridional do País, levou o Infante a iniciar a exploração dos mares (...).

Para o adestramento técnico dos seus marinheiros e o arquivamento das experiências e realizações obtidas, D. Henrique cercou-se de peritos, fundando em Sagres uma autêntica escola náutica, trazendo a Portugal, entre outros mestres, o célebre cartógrafo Jafuda, ou Jácome de Malhorca, que com os elementos fornecidos pelos navegantes portugueses elaborou novas cartas náuticas. Entre os interesses determinantes da sua dedicação às navegações contavam-se os de ordem religiosa (espírito de cruzada, que lhe impunha a defesa e propagação da fé cristã), política e econômica".

D. Henrique admirava o espírito das cruzadas e logo demonstrou forte interesse pela exploração dos mares, conseguindo influenciar seu pai e seus dois irmãos, os quais também eram entusiastas da expansão territorial. Apoiado pelo poder papal, empenhou-se na conquista de novas terras em África, não só para levar a fé cristã aos territórios dos infiéis, como também garantir os rendimentos das colônias africanas. Assim sendo, "em 1415, portanto decorridos apenas quatro anos sobre a assinatura da paz com Castela, o rei de Portugal, à frente de uma enorme expedição militar (19.000 combatentes, 1.700 marinheiros e 200navios), conquistou a importante cidade de Ceuta, no Norte de África. Este fato é considerado como o ponto de partida da política oficial da expansão ultramarina".

Seis anos depois, o Infante D. Henrique tornou-se Mestre da Ordem de Cristo, e a expansão marítima ganhou novo alento. Partindo-se do Tejo ou da Escola Náutica, as caravelas cruzavam os mares com a cruz templária estampada em suas velas. As ilhas dos Açores e da Madeira foram colonizadas à medida que a costa africana ia sendo desbravada na tentativa de encontrar o reino de Prestes João (que hoje sabemos ser a Etiópia), no qual, conforme se noticiava, existiam fabulosos tesouros e ouro em quantidades exorbitantes.

Sabia-se também que "(...) a penetração em África causaria uma guerra aos mouros como as precedentes lutas multisseculares. (...) A seguir a estas conquistas em Marrocos, as viagens marítimas desenvolveram-se ao longo da costa ocidental africana. Aludimos atrás à parte que nelas teve a Ordem de Cristo, continuadora dos templários (...). O papel desempenhado pela idéia de cruzada desde os descobrimentos portugueses está, pois, intimamente ligado à sua anterior evolução na guerra com os mouros".

Em expedições formadas com pequenas embarcações, foram registrados, corrigidos e aperfeiçoados os mapas dos vários acidentes geográficos. As caravelas usadas em Portugal em 1442 foram desenvolvidas nos estaleiros de D. Henrique. Ela era rápida, leve e fácil de ser manobrada. Robusta o suficiente para enfrentar mar bravio, porém pequena e mais adequada para explorar litorais, costear praias perigosas e navegar em mares rasos. Sua construção foi uma conquista técnica dos portugueses e para a defesa dessa exclusividade de utilização As Ordenações Manuelinas  determinavam o seguinte: "Mandamos e defendemos que nenhuma pessoa de qualquer condição que seja não venda aos estrangeiros caravelas; (...) nem as vá lá fazer ao estrangeiro".

Com os conhecimentos náuticos de que dispunha, a Ordem de Cristo prestou serviço insofismável à coroa portuguesa, por causa da perigosa navegação costeira do Atlântico. Em 1418, na Bula Sane Charissimus, o Papa Martinho V concedeu à Ordem a administração civil e religiosa das terras tomadas aos infiéis (na verdade aos nativos), em recompensa aos anos de esforço diplomático do Infante para pôr fim ao conflito existente entre Roma e os antigos cavaleiros templários. Com o Infante D.Henrique foram lançadas as bases para o descobrimento do Brasil.

A Espanha também vislumbrou a oportunidade de igualar-se ao poderio marítimo português e, conseqüentemente, obter dividendos semelhantes às terras conquistadas. Em 1480, deu-se uma disputa na fronteira entre Portugal e Espanha ocasionando, catorze anos mais tarde,na elaboração do Tratado de Tordesilhas, em que "o mundo era dividido em dois hemisférios, demarcados por uma linha de pólo a pólo que passasse 370 léguas a ocidente das ilhas de Cabo Verde: a ocidente desse hemisfério, as terras novas pertenceriam à Espanha; as descobertas a Oriente pertenceriam a Portugal".

D. Manuel I foi o monarca que se mostrou mais interessado pelo comércio marítimo e pela exploração colonial. Vasco da Gama descobriu o caminho para as Índias e foi recebido triunfalmente quando retornou a Portugal, sendo recompensado pelo monarca com a nomeação de almirante-mor das Índias. Desde então, tornou-se necessário gerir o território asiático de uma forma diferente daquela adotada na África, devido à capacidade defensiva superior dos povos asiáticos e também à dificuldade de aculturamento aliada à distância. Assim sendo, servindo-se de diplomacia política, D. Manuel I sugeriu uma aproximação baseada não na força bélica, mas na troca de conhecimentos e nas relações comerciais.

Álvares Cabral, um cavaleiro da Ordem de Cristo, partiu do rio Tejo, em Lisboa, em 8 de março de 1 500, em direção às Índias, tendo em vista a criação de uma feitoria. Sua armada era formada de 13 navios e 1,5 mil tripulantes, a maior expedição já organizada por Portugal. A bordo, nobres, estudiosos, degredados e artesãos representavam uma amostra da sociedade portuguesa. Oito frades franciscanos vinham liderados por Henrique Soares, proeminente figura do clero português, que celebrou a primeira cerimônia cristã em solo brasileiro. O frei Henrique Soares declarou que a viagem da descoberta foi feita em honra e obediência à cruz, ou seja, a empreitada que lançou os portugueses aos mares foi uma saga alimentada em grande parte pelo fervor cristão. 

A opulenta Ordem de Cristo foi quem organizou e financiou grande parte desse empreendimento. Não se pode deixar de reconhecer que o descobrimento do Brasil foi motivado também pelo direito que os reis lusitanos tinham na evangelização das novas terras conquistadas.

Para o mestre de história Walter Ângelo Fernandes Aló, da Universidade do Rio de Janeiro, a religiosidade dos portugueses foi um fator decisivo para a descoberta do Brasil. "Desde o tempo das cruzadas, das quais participaram ativamente, os portugueses encararam as conquistas como uma espécie de missão"; isto é, para o historiador as motivações religiosas foram tão importantes quanto as econômicas.  "O povo português acreditava-se predestinado por Deus para grandes realizações. Após mais de cinco séculos sob o domínio muçulmano, Portugal pressentiu no fim do feudalismo o início de uma nova era. O entusiasmo e o sentimento libertário motivaram a conquista de novas terras e almas."

Pesquisas recentes publicadas pelo historiador português Jorge Couto da Universidade de Lisboa revelaram que D. Manoel I já tinha conhecimento da existência do Brasil antes da expedição de Cabral. A tese do historiador baseia-se em um manuscrito produzido por Duarte Pacheco Pereira, intitulado de Esmeraldo de situ orbís (O tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte), que ficou desaparecido por quase quatro séculos.

Duarte Pacheco foi um gênio da astronomia, navegação e geografia. Era um homem da mais absoluta confiança do rei D. Manoel l e desembarcara no Brasil, nas proximidades da fronteira do Maranhão com o Pará, entre novembro e dezembro de 1498, portanto um ano e meio antes de Cabral. De regresso a Lisboa fez um relato composto de cinco partes, num total de 200 páginas, ao rei D. Manoel I.

A melhor prova do descobrimento do Brasil encontra-se no seguinte excerto resumido do capítulo segundo da primeira parte do Esmeraldo: "Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tão grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados."

D. Manoel considerou a descoberta como um segredo de Estado e manteve o manuscrito em sigilo. Para o historiador José Manoel Garcia "a viagem de Cabral continua a ser considerada  o descobrimento oficial do Brasil apenas por uma questão de tradição e comodidade". Porto Seguro, assim batizada pela calmaria das suas águas e pela beleza natural da sua paisagem, acolheu no dia 26 de abril de 1500 a armada portuguesa que, ao invés de ter seguido viagem para as Índias, rumou para o Ocidente passando por Cabo Verde. A bandeira com a cruz de Cristo foi içada neste novo território e a primeira missa foi celebrada.

"A principal riqueza da terra recém-descoberta foi, durante muitos anos, o pau-brasil, árvore cujo cerne, intensamente vermelho, tinha aplicação na tinturaria e cuja madeira, de uma grande resistência, era usada na construção de móveis e de navios. O nome que os descobridores deram à nova terra - Vera Cruz - foi rapidamente substituído peia designação  do principal produto que de lá se trazia."

Estava assim concretizado o mais ambicioso projeto dos cavaleiros de Cristo — a descoberta do Brasil —, o qual foi formalmente incorporado às propriedades de sua organização. Mas, para que essa empresa fosse bem-sucedida, a colaboração dos soberanos portugueses foi fundamental, pois estes acreditavam na existência de terras a ocidente de África.

Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro declarou a independência do Brasil ao tornar-se seu primeiro imperador. Embora lhe fosse conferido o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo, D. Pedro não regeu o império como Grão-Mestre, mas como Imperador. Com a morte de seu pai, D. Pedro tornou-se rei de Portugal e reivindicou à Santa Sé sobre a possibilidade de a instituição da Ordem de Cristo no Brasil funcionar deforma autônoma.

O Papa Leão XII, através da Bula Praeclara Portugaliiae Algarbiorumque Regum, de 15 de maio de 1827, concedeu-lhe a permissão, mas conflitos políticos  internos no Brasil impediram a sua concretização. Só em 1843 a Ordem de Cristo foi oficialmente reconhecida, autonomamente, no Brasil, tendo atuado no país até à República Constitucional de 1891.

Fonte: Livro História e Mistérios dos Templários, Pedro Silva

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