segunda-feira, 15 de abril de 2019

A Base da "Nova Exegese": A Heresia - Mons. Francesco Spadafora




Três Verdades de Fé na Base da Exegese Católica

Diante dos erros dos modernistas e para socorrer alguns pesquisadores católicos perturbados, o Magistério dos Pontífices Romanos (1) tomou o cuidado, neste século, de lembrar, reafirmar, e especificar, diversas vezes e com a maior clareza, as três verdades de fé, concernentes à Sagrada Escritura, que devem estar na base da interpretação ou exegese que pretenda ser católica. Estas três verdades, são:

1) A inspiração divina das Sagradas Escrituras.

2) Sua absoluta impossibilidade de erro

3) A Igreja é a única depositária e intérprete autorizada das Sagradas Escrituras.

*
1 - Inspiração Divina das Sagradas Escrituras

É uma verdade de fé definida pelo Concílio dogmático Vaticano I e ilustrada com a maior precisão por Leão XIII, na encíclica Providentissimus Deus, chamada por Pio XII de A Magna Carta dos Estudos Bíblicos. (2)

Leão XIII se liga às fontes bíblicas e patrísticas e a São Tomás de Aquino, e lembra a definição do Concílio Vaticano I para os livros Sagrados: «A Igreja os considera sagrados e canônicos não porque redigidos pela ciência humana e depois aprovados pela autoridade da referida Igreja; não apenas porque eles contém a verdade sem erro, mas porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor».

Leão XIII explica que o Espírito Santo utilizou os autores sagrados como instrumentos para escrever: «Ele mesmo, por sua virtude, os levou a escrever; Ele mesmo os assistiu enquanto escreviam, de tal modo que concebiam exatamente o que queriam contar e que expressavam com verdade infalível tudo e tão somente o que Ele lhes ordenava escrever. De outra forma Ele não seria o autor de toda a Sagrada Escritura».

Portanto, Deus é o autor principal dos Livros Sagrados, o escritor sagrado é o autor secundário, instrumental.

2 - Inerrância absoluta dos Textos Sagrados

É um dogma de fé implicitamente definido no dogma da inspiração divina (Concílios de Trento e Vaticano I), porque a inerrância absoluta é a conseqüência direta, o efeito da inspiração divina; ela lhe é tão estreitamente ligada que não se pode negar a inerrância absoluta sem negar a inspiração divina (3). Os Pontífices Romanos falam, então, como de um dogma único.

Na encíclica Providentissimus Deus, Leão XIII começa por excluir o erro ou, para ser preciso, a heresia que se opõe a este dogma e que hoje domina incontestada na «nova» exegese e que, portanto, não é mais católica:

«Seria absolutamente funesto tanto limitar a inspiração a alguma das partes das Escrituras quanto aceitar que o autor sacro se tenha enganado.

Não se pode também tolerar o método daqueles que se livram destas dificuldades não hesitando em concordar que a inspiração divina só abrange as verdades concernentes à fé e à moral e nada mais. Eles pensam, erradamente, que quando se discute a verdade das opiniões, não se deve procurar principalmente o que Deus disse, mas examinar antes os motivos pelos quais Ele falou assim».

A prova - continua Leão XIII - de que nenhum erro possa se prender à inspiração divina é que, não somente ela exclui todo erro por si mesma, mas ainda o exclui e lhe repugna tão necessariamente quanto é impossível a Deus, soberana verdade, ser o autor de algum erro».

Tal é a crença antiga e constante da Igreja, definida solenemente pelos concílios de Florença e de Trento, confirmada e mais expressamente exposta no Concílio Vaticano [I] ... Não se deve portanto preocupar pelo fato de que o Espírito Santo tenha tomado homens como instrumentos para escrever, como se alguma opinião falsa pudesse ser emitida, não certamente pelo Primeiro Autor, mas pelo autor inspirado ... Tal foi sempre o sentimento dos Santos Padres [e ele cita Santo Agostinho e São Gregório Magno]...

Segue-se que aqueles que pensam que as passagens autênticas dos Livros Sagrados podem conter alguma idéia falsa, seguramente, ou eles pervertem a doutrina católica ou fazem do próprio Deus o autor de um erro. Todos os Padres e todos os doutores estavam tão firmemente certos de que os Textos divinos, tais como foram deixados pelos escritores sagrados, estão isentos de qualquer erro, que eles se empenharam com muito engenho e religiosamente em encontrar o acordo entre eles e conciliar as numerosas passagens que parecem apresentar alguma contradição ou alguma divergência. (E são quase os mesmos que, em nome da ciência nova, nos são opostos hoje em dia).

Os doutores foram unânimes em crer que estes Livros, quer no conjunto quer nas partes, são igualmente de inspiração divina, que o próprio Deus falou pelos autores sagrados, e que Ele não pode anunciar nada de oposto à verdade».

Bento XV, em sua encíclica Spiritus Paraclitus (15 de setembro de 1920), confirma, repete e amplia a luminosa síntese doutrinal de Leão XIII.

Este Papa se queixa: «Estas palavras de Nosso predecessor não dão lugar a nenhuma dúvida nem a nenhuma hesitação, infelizmente. Apesar disto, Veneráveis irmãos, não faltaram, não somente fora mas mesmo entre os filhos da Igreja Católica e fato mais cruel ainda a Nosso coração até entre os clérigos e os mestres das ciências sagradas, espíritos que, com uma confiança orgulhosa em seu próprio julgamento, negaram abertamente ou atacaram dissimuladamente, neste ponto, o Magistério da Igreja. Certamente Nós aprovamos o desejo daqueles que, ansiosos por eles mesmos e pelos outros de desobstruir de suas dificuldades o texto sagrado, pesquisam com o apoio de todos os dadas da ciência e da crítica, novos métodos para resolvê-los; mas fracassarão lamentavelmente nos seus empreendimentos se negligenciarem as direções de Nosso predecessor e se ultrapassarem as bordas e os limites indicados pelos Padres.

Ora, a opinião de alguns modernos não se embaraça de jeito nenhum com estas prescrições e limites: distinguindo na Escritura um duplo elemento, o elemento principal ou religioso e o elemento secundário ou profano, eles aceitam que a inspiração esteja sobre todas as proposições e mesmo sobre todas as palavras da Bíblia, mas eles restringem e limitam os efeitos, a começar pela imunidade ao erro e a veracidade absoluta ao único elemento principal ou religioso. Segundo eles, Deus só tem em vista e só ensina pessoalmente na Escritura o que toca à religião; para o resto que se refere às ciências profanas que, para a doutrina revelada, não têm outra utilidade senão servir como envelope da verdade divina, Deus somente o permite e o abandona à fraqueza do escritor».

Contra esta heresia, Bento XV lembra a doutrina de São Jerônimo e de outros Padres da Igreja, que «não buscaram a doutrina sobre os Livros Sagrados em nenhum outro lugar que não seja a escola do divino Mestre Jesus Cristo. Lemos, por acaso, que Nosso Senhor tenha tido outra concepção da Escritura? As fórmulas "Está escrito" e "É preciso que a Escritura se cumpra" são, em seus lábios, um argumento sem réplica e que deve encerrar toda discussão».

Finalmente, Pio XII, na encíclica Divino Afflante Spiritu (30 de setembro de 1943) em comemoração do qüinquagésimo aniversário da Providentissimus Deus, de Leão XIII, denuncia por sua vez as heresias que se espalham na Igreja e reafirma a inerrância absoluta das Sagradas Escrituras. Depois de ter lembrado as definições dos concílios dogmáticos de Trento e Vaticano I, Pio XII prossegue:
«Mais recentemente, entretanto, apesar desta solene definição da doutrina católica, que reivindica para estes «livros inteiros, com todas as suas partes», uma autoridade divina, preservando-os de todo erro, alguns escritores católicos não temem restringir a verdade da Sagrada Escritura somente às matérias de fé e de moral, olhando o resto, no domínio da física ou da história como coisas ditas de passagem, e que não têm - como eles pretendem - nenhuma conexão com a fé. Mas Nosso predecessor Leão Xlll, de imortal memória, na sua encíclica Providentissimus Deus, de 18 de novembro de 1893, respondeu com exatidão a estes erros...»

E depois de haver citado textualmente as palavras de Leão XIII transcritas acima, Pio XII conclui: «Esta doutrina, que Nosso predecessor Leão XIII expôs com tanta energia, Nós a propomos também com Nossa autoridade e insistimos para que ela seja religiosamente guardada por todos».

3 - A Igreja, única depositária e intérprete autorizada da Sagrada Escritura

 Esta é uma verdade de fé, definida pelo concílio de Trento e pelo concílio dogmático Vaticano I. Sobre esta questão, também, a Providentissimus Deus, de Leão XIII, propõe a síntese da «crença antiga e constante da Igreja». Depois de haver observado que não se pode abordar os Livros Sagrados sem guia, dadas as dificuldades que sua leitura apresenta, Leão XIII conclui que, por causa destas dificuldades, os homens podem perceber que Deus «deu as Escrituras à Igreja, a fim de que, na interpretação de suas palavras, ela seja o guia e o mestre mais seguro». «É a doutrina de Santo Irineu e de outros Padres - escreve ele - que o Concílio do Vaticano adotou quando, renovando um decreto do Concílio de Trento sobre a interpretação da palavra divina escrita, decidiu que, nas coisas de fé e de moral que servem para a fixação da doutrina cristã, deve-se tomar como sentido exato da Sagrada Escritura aquele que tomou e toma nossa Santa Madre Igreja, a quem cabe julgar o sentido e a interpretação dos Livros Sagrados. Não é permitido a ninguém explicar a Escritura de um modo contrário a esta significação ou ao consenso unânime dos Padres».

Pio XII, em Divino Afflante Spiritu, reafirma plenamente o ensinamento da Providentissimus: «a guarda e interpretação [das Sagradas Escrituras], foi confiada, pelo próprio Deus, à Igreja».

A «Nova Exegese», origem da corrupção de toda a Teologia.

A «nova exegese», na sua vã tentativa de se amarrar de um certo modo ao Magistério tradicional, se obstina ainda em ver na Divino Afflante Spiritu, de Pio XII (30 de setembro de 1943), uma mudança de rumo em relação a Providentissimus Deus, de Leão XIII, e uma transformação capaz de legitimar as aberrações heréticas de hoje. Como se o papa Pacelli, sempre tão atento à defesa da doutrina católica, tivesse sugerido nesta encíclica, ou melhor, tivesse exortado os exegetas - e mesmo lhes teria ordenado - a jogar fora os três dogmas que são a base da exegese católica.

Esta tese, evidentemente absurda, é refutada inicialmente por uma leitura honesta de Divino Afflante, como também de Humani Generis, do mesmo Pio XII e que lhe é posterior (12 de abril de 1950).

Eis com que clareza Pio XII aí condena a «nova exegese» promulgada pela «nova teologia», mostrando nela a origem da corrupção da própria teologia:

«Os dissensos e os erros dos homens em matéria religiosa e moral, que sempre foram para todos os honestos e, principalmente, para os verdadeiros filhos da Igreja, motivo de grande dor, são assim particularmente hoje quando vemos atacados por todos os lados os próprios princípios da cultura cristã [ ... ] É verdade também que os teólogos devem, sem cessar, voltar às fontes da revelação divina; é seu papel indicar de que maneira as verdades ensinadas pelo magistério vivo, se acham "explícita ou implicitamente nas Escrituras e na Tradição". [ ... ] Mas ... a própria teologia positiva não pode ser reduzida ao nível de uma ciência simplesmente histórica. Deus, de fato, deu à sua Igreja, com estas fontes que citamos, um magistério vivo para esclarecer e liberar o que estava contido no depósito da fé de uma maneira obscura e, por assim dizer, implícita. Este depósito, não é aos fiéis e nem mesmo aos teólogos que Nosso Divino Redentor confiou a verdadeira interpretação, mas somente ao Magistério da Igreja. Ora se a Igreja exerce este papel, como sempre exerceu durante séculos pela via ordinária ou extraordinária, é evidente que é um método falso explicar o claro pelo escuro; mais ainda, é a ordem contrária que se impõe a todos.

Também Pio IX, Nosso Predecessor de imortal memória, quando ensinou que o papel tão nobre da teologia é mostrar como a doutrina definida pela Igreja está contida em suas fontes, acrescentou com razão estas palavras: «No próprio sentido em que a Igreja o definiu».

Para voltar, então, às "novas opiniões" que mencionamos acima, alguns propõem ainda ou sugerem pareceres que tiram a autoridade divina da Sagrada Escritura. De fato, alguns ousam falsificar o sentido da definição do Concílio Vaticano I que proclama Deus como autor das Escrituras, retomando assim uma opinião muitas vezes condenada, segundo a qual a inerrância da Escritura só seria no que concerne a Deus, coisas morais e religiosas. Muito mais erradamente falam eles do sentido humano dos Livros Sagrados, sob o qual se esconderia, segundo eles, o sentido divino, único infalível.

Na interpretação da Escritura, eles não querem, de modo algum, que se leve em conta a analogia da fé e da tradição da Igreja; de modo que seria preciso trazer o ensinamento dos Santos Padres e do Magistério ao sentido da Escritura interpretada de uma maneira puramente humana pelos exegetas, antes de explicar a Sagrada Escritura segundo o espírito da Igreja, que Cristo Nosso Senhor estabeleceu como guardiã e intérprete de todo depósito da verdade divinamente revelada.

Além disso, o sentido literal da Escritura e a exposição que elaboraram, sob a vigilância da Igreja, tantos e tão grandes exegetas, devem ceder, segundo os decretos falaciosos desses mestres, diante da «nova exegese» que chamam simbólica e espiritual [...].

Todos vêem quanto estas doutrinas se afastam dos princípios e das normas de hermenêutica que foram justamente fixadas por Nossos Predecessores de feliz memória, Leão XIII, na Encíclica Providentissimus e Bento XV, na Encíclica Spiritus Paraclitus, assim como por Nós em nossa Encíclica Divino Afflante Spiritu.

Não é de espantar que estas novidades já tenham produzido frutos envenenados em todas as partes da teologia...»

O renascimento do Modernismo

Na realidade com a «nova exegese», o modernismo emergia de novo no domínio bíblico. Basta reler as teses modernistas seguintes condenadas por São Pio X no decreto Lamentabili, teses pelas quais são negadas as três verdades fundamentais da exegese católica:

«II - Não se pode desdenhar, sem dúvida, a interpretação dos Livros Sagrados pela Igreja; mas ela é ao menos subordinada ao julgamento mais aprofundado e à correção dos exegetas.

IX - Dão prova de grande ingenuidade ou ignorância os que crêem que Deus é realmente o Autor da Sagrada Escritura.

XI - A inspiração divina não se estende, assim, a toda a Sagrada Escritura, a preservando de todo erro a todas e cada umas de suas partes».

No domínio da heresia

Trata-se, certamente, de uma heresia, porque as três verdades de fé que são a base da exegese católica são três dogmas de fé definidos.
Isto aparece claramente a partir dos textos dos Concílios dogmáticos de Trento e Vaticano I, sempre lembrados pelos papas e também pelos documentos do Santo Oficio e pelas decisões doutrinais da Comissão Bíblica Pontifical, a autêntica (até 1937). Decisões estas que São Pio X declarava (Motu Proprio Praestantia, de 18 de novembro de 1907) que «todos, sem excessão, são obrigados obedecer... do mesmo modo que aos decretos das Sagradas Congregações aprovados pelo soberano Pontífice».

Assim a Comissão Bíblica Pontifical, na sua resposta de 18 de junho de 1915, sobre a parusia (a última vinda de Cristo, para julgar) em São Paulo, escreve: «Tendo presente (...) o dogma católico da inspiração divina e da inerrância das Sagradas Escrituras...» Por sua vez, o Santo Ofício, no seu decreto de condenação do Manual Bíblico do sulpiciano Brassac, escreve:

 «Mons.Brassac sustenta opiniões sobre a inspiração da Sagrada Escritura e sobre sua inerrância [...] que contradizem a evidência dos decretos dogmáticos dos concílios de Trento e Vaticano I e dos documentos do Magistério eclesiástico, como por exemplo as encíclicas de Leão XIII e de Pio X; os decretos do Santo Oficio e da Comissão Bíblica Pontifical, assim como toda a tradição católica.

Se alguém se refere em particular à inerrância absoluta da Sagrada Escritura, basta lembrar a doutrina de Leão XIII na encíclica Providentissimus [segue o texto citado acima]. O Santo Oficio defendeu a mesma doutrina contra os modernistas, condenando, no decreto Lamentabili, a proposição 11 [já citada].

Por fim, na decreto da Comissão Bíblica Pontifical de 18 de junho de 1915, é dito que do dogma católico da inspiração e da inerrância das Sagradas Escrituras, segue-se que tudo o que o hagiógrafo afirma, anuncia, insinua, deve ser considerado como afirmado, anunciado, insinuado pelo Espírito Santo».

No que concerne à terceira verdade de fé: a Igreja é a única depositária e intérprete das Sagradas Escrituras, no mesmo decreto, o Santo Ofício escreve:
«O autor tem numerosas interpretações que se opõem totalmente ao julgamento da Igreja. Coisa realmente deplorável, desde o momento em que o Concílio de Trento decretou: "que ninguém, apoiando-se na prudência pessoal em matéria de fé e de moral, matéria que pertence à instrução da doutrina cristã, manipulando a Sagrada Escritura segundo suas próprias intenções, ouse interpretar, contra o julgamento que fez e que faz nossa Santa Madre Igreja, a quem cabe julgar o verdadeiro sentido e a interpretação das Santas Escrituras, e igualmente contra o acordo unânime dos Padres, e que jamais tais interpretações deveriam ser publicadas". E os Padres do concílio Vaticano I confirmaram esta prescrição pelas seguintes palavras: "No momento em que alguns interpretam mal o que o Santo Sínodo Tridentino utilmente decretou sobre a interpretação da divina Escritura, para reprimir os espíritos presunçosos, Nós, renovando este decreto, declaramos que em matéria de fé e de moral relativa à edificação da doutrina cristã, deve ser tido por verdadeiro o sentido da Sagrada Escritura que deu e tem dado a santa madre Igreja a quem pertence julgar o verdadeiro sentido e a interpretação das santas Escrituras; a ninguém é permitido interpretar a Sagrado Escritura contra este sentido ou também contra a concordância unânime dos Padres"».

A Comissão Bíblica Pontifical, na sua condenação (27 de fevereiro de 1934) da obra Die Einwanderung Israels in Kanaan, de Frédéric Schmidtke, professor de Antigo Testamento na Faculdade Teológica da Universidade de Bratislava, escreve: «O autor ... nega, ao menos implicitamente, o dogma da inspiração e da inerrância bíblica; não leva em conta as normas do hermenêutica católica; contradiz a doutrina católica exposta claramente nas encíclicas Providentissimus Deus, de Leão XIII e Spiritus Paraclitus, de Bento xv. Esta obra merece, portanto, absoluta reprovação e deve ser retirada das escolas católicas».

E sobre a terceira verdade de fé, a Comissão Bíblica Pontifical assim se expressa:
«Aproveitando esta ocasião, a Comissão Bíblica Pontifical lembra aos exegetas católicos o dever de se submeter, com o respeito que lhe é devido, à constituição dogmática do Concilio Vaticano I, que renova o decreto do Concílio de Trento em que é estabelecido solenemente que nas questões de fé e de moral que têm relação com a edificação do doutrina cristã, devesse ter por verdadeiro sentido da Sagrada Escritura aquele que adotou e adota a Santa Madre Igreja, a quem pertence julgar o sentido e a interpretação autêntica das Sagradas Escrituras; e, portanto, não é permitido a ninguém interpretar esta mesma Sagrado Escritura contra este sentido ou contra a opinião unânime dos Padres».

Além disso, esta doutrina se encontra ensinada em todos os Manuais de Sagrada Escritura, pelo menos até o Vaticano II.

Conclusões gravíssimas

As conclusões do que foi dito e dos documentos fornecidos são gravíssimas:

1 - Nenhum batizado e, menos ainda, se for eclesiástico ou religioso, pode conscientemente negar ou pôr em dúvida a inspiração e a absoluta inerrância da Sagrada Escritura; nem deixar de considerar., nas questões bíblicas que têm relação com a fé e a moral, o sentido que a Igreja sempre considerou nestes textos sagrados, se não quiser cair em heresia.

2 - Uma interpretação da Sagrada Escritura que não leve em conta estas três verdades não é uma exegese católica, mas uma exegese herética. E assim faz a «nova exegese».

Francesco Spadafora

Notas:

[1] Os documentos eclesiásticos concernentes à Sagrada Escritura são tirados da obra Enchiridion Biblicum [1a. edição, Roma 1927; 2a. edição, Nápoles-Roma 1954; 3a. edição, 1956; 4a. edição, 196I]. O índice cronológico vai do Fragmentum Muratorianum [século II] à encíclica Humani Generis, de Pio XII [1950]. Uma edição recente bilíngüe [latim-italiano] do Enchiridion Biblicum foi publicada em 1993 pela Ed. Dehoniane, de Bolonha.

(2) Ed. Vozes, Coleção Documentos Pontifícios no. 28, Petrópolis, 1961.

(3) J. Renié, I, Lyon Paris, 6a. edição 1949, págs.58-61; G. Perrella, L. Vaggagini, Turin 1960, págs. 55 e segs. Ver por extenso no meu livro Leone XIII e gli studi biblici págs. 93-100. Especialmente: os dois clássicos «Introductions générales à l'Écriture Sainte», Hoptl-LeIoir, Nápoles-Roma 1958 e A. Mezk-A.Bea, Instituto Bíblico Pontifical, Roma 1951; De inspiratione, págs. 85-90).

Fonte: Mons. Francesco Spadafora, "O Triunfo do Modernismo sobre a Exegese Católica", Cap. 2, em Permanência

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