A “Salve Rainha” é a mais famosa oração a Nossa
Senhora depois do Ave Maria. Ela tem a impronta de devoção medieval bem
marcada: unção, espírito filial e sacral, lógica e suavidade. Ela parece ter
sido sugerida pela própria Mãe de Deus à alma que a recitou pela primeira vez.
Quem foi ela?
É próprio do espírito de humildade e pureza do
espírito católico não querer atrair a atenção sobre si próprio. E em casos como
este, esquecer de si próprio para atrair todas as atenções para o objeto da
oração: a Santíssima Mãe de Deus. Por isso, como em tantas outras maravilhas
medievais, não se tem notícia certa do primeiro que recitou o “Salve Rainha”.
Porém há muito boas razões para atribuí-la a D.
Ademar de Monteil, bispo de Puy-en-Velay no século XI. Em Puy-em-Velay, na
região de Auvergne, no centro da França, há um famosíssimo santuário dedicado a
Nossa Senhora do Puy. Aliás muitíssimo mais visitado nos tempos medievais do
que nos séculos de decadência religiosa que advieram depois. No santuário de
Puy-en-Velay venera-se também hoje a imagem de “Nossa Senhora das Cruzadas”.
Peregrinos e cruzados que iam a Terra Santa
acostumavam passar antes pelo Puy para se encomendar especialmente a ela. Por
sinal D. Ademar foi o primeiro bispo cruzado, e o primeiro cruzado. Foi ele
quem, o primeiro, pediu ao Papa Beato Urbano II de portar a Cruz em sinal de
guerra aos maometanos.
O acatadíssimo Migne defende que “antes de sua
partida à Cruzada, pelo fim do mês de outubro de 1096, ele compôs a canção de
guerra da (Primeira) Cruzada, na qual ele implorava a intercessão da Rainha do
Céu, a Salve Rainha” (Migne, "Dict. des Croisades", s. v. Adhémar).
Dom Ademar descubriu a Sagrada Lança durante essa Cruzada.
Não menos importante é a devoção a São Miguel
Arcanjo naquela abençoada localidade.
O Puy exercia quase tanto ou igual atrativo à
devoção ao Príncipe da Milícia Celeste do que o famosíssimo Monte Saint-Michel
na Normandia. Além do mais, o Puy era uma das etapas as mais prezadas pelos
romeiros que depois seguiam a pé ‒ e ainda hoje seguem ‒
até o longínquo túmulo do Apóstolo Santiago em Compostela, Espanha.
Há ainda outros que com boas razões acham que a
“Salve Rainha” foi obra do bem-aventurado alemão Hermann Contractus, também
cultuado como santo. Por certo, a ele é atribuída a melodia gregoriana.
Entretanto, tão grande foi a devoção medieval pela Salve Rainha que o próprio
gregoriano elaborou muitas formas de cantá-la.
Acresce que Durandus, no seu “Rationale”, põe na
origem o espanhol D. Pedro de Monsoro, falecido perto do ano 1000, bispo de
Compostela. É lugar muito comum que as exclamações finais “ó clemente, ó
piedosa, ó doce Virgem Maria” tenham sido inspiradas por Nossa Senhora a São
Bernardo de Claraval.
Salve
Regína, Mater misericórdiae, vita, dulcedo et spes nostra salve!
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida,
doçura, esperança nossa, salve!
Ad te
clamámus, éxsules filii Evae.
A vós bradamos os degredados filhos de Eva;
Ad te suspirámus geméntes et flentes in hac lacrimárum
valle.
a vós suspiramos, gemendo e chorando neste
vale de lágrimas.
Eia
ergo, advocata nostra, illos tuos misericórdes óculos ad nos convérte.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos
olhos misericordiosos a nós volvei,
Et
Jesum, benedíctum fructum ventris tui, nobis post hoc exsílium, osténde.
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus,
bendito fruto de vosso ventre.
O
clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria!
Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.
Jaculatória final: Rogai por nós, Santa Mãe
de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de
Cristo.
Fonte: Orações e Milagres Medievais
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