sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Salve-Rainha: a maravilhosa origem dessa oração




A “Salve Rainha” é a mais famosa oração a Nossa Senhora depois do Ave Maria. Ela tem a impronta de devoção medieval bem marcada: unção, espírito filial e sacral, lógica e suavidade. Ela parece ter sido sugerida pela própria Mãe de Deus à alma que a recitou pela primeira vez. Quem foi ela?


É próprio do espírito de humildade e pureza do espírito católico não querer atrair a atenção sobre si próprio. E em casos como este, esquecer de si próprio para atrair todas as atenções para o objeto da oração: a Santíssima Mãe de Deus. Por isso, como em tantas outras maravilhas medievais, não se tem notícia certa do primeiro que recitou o “Salve Rainha”.

Porém há muito boas razões para atribuí-la a D. Ademar de Monteil, bispo de Puy-en-Velay no século XI. Em Puy-em-Velay, na região de Auvergne, no centro da França, há um famosíssimo santuário dedicado a Nossa Senhora do Puy. Aliás muitíssimo mais visitado nos tempos medievais do que nos séculos de decadência religiosa que advieram depois. No santuário de Puy-en-Velay venera-se também hoje a imagem de “Nossa Senhora das Cruzadas”.

Peregrinos e cruzados que iam a Terra Santa acostumavam passar antes pelo Puy para se encomendar especialmente a ela. Por sinal D. Ademar foi o primeiro bispo cruzado, e o primeiro cruzado. Foi ele quem, o primeiro, pediu ao Papa Beato Urbano II de portar a Cruz em sinal de guerra aos maometanos.

O acatadíssimo Migne defende que “antes de sua partida à Cruzada, pelo fim do mês de outubro de 1096, ele compôs a canção de guerra da (Primeira) Cruzada, na qual ele implorava a intercessão da Rainha do Céu, a Salve Rainha” (Migne, "Dict. des Croisades", s. v. Adhémar). Dom Ademar descubriu a Sagrada Lança durante essa Cruzada.

Não menos importante é a devoção a São Miguel Arcanjo naquela abençoada localidade.

O Puy exercia quase tanto ou igual atrativo à devoção ao Príncipe da Milícia Celeste do que o famosíssimo Monte Saint-Michel na Normandia. Além do mais, o Puy era uma das etapas as mais prezadas pelos romeiros que depois seguiam a pé e ainda hoje seguem até o longínquo túmulo do Apóstolo Santiago em Compostela, Espanha.

Há ainda outros que com boas razões acham que a “Salve Rainha” foi obra do bem-aventurado alemão Hermann Contractus, também cultuado como santo. Por certo, a ele é atribuída a melodia gregoriana. Entretanto, tão grande foi a devoção medieval pela Salve Rainha que o próprio gregoriano elaborou muitas formas de cantá-la.

Acresce que Durandus, no seu “Rationale”, põe na origem o espanhol D. Pedro de Monsoro, falecido perto do ano 1000, bispo de Compostela. É lugar muito comum que as exclamações finais “ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria” tenham sido inspiradas por Nossa Senhora a São Bernardo de Claraval.

Salve Regína, Mater misericórdiae, vita, dulcedo et spes nostra salve!
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!

Ad te clamámus, éxsules filii Evae.
A vós bradamos os degredados filhos de Eva;

Ad te suspirámus geméntes et flentes in hac lacrimárum valle.
a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia ergo, advocata nostra, illos tuos misericórdes óculos ad nos convérte.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,

Et Jesum, benedíctum fructum ventris tui, nobis post hoc exsílium, osténde.
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre.

O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria!
Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.

Jaculatória final: Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

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