Social por natureza, o homem sente necessidade de amar a seu semelhante. Sem isto, a vida em sociedade seria intolerável. Sem isto, a vida em sociedade seria intolerável.
A unidade da espécie humana nos obriga a este amor: somos todos irmãos.
Outra fraternidade ainda mais estreita é a dos filhos de Deus e membros do Corpo de que Cristo é a cabeça e o primogênito entre muitos irmãos (Rom. 8, 29).
Amor do próximo
1. A lei mosaica mandava: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Lv. 19, 18). Mas os judeus não compreendiam os inimigos, escravos e estrangeiros como próximos.
2. Jesus Cristo equiparou o amor do próximo ao amor de Deus (Mt. 22, 39) e lhe deu verdadeira interpretação na parábola do samaritano (Lc. 10, 25-37), estendendo a caridade a todos os homens, mesmo ao inimigos (Mt. 5, 43-45).
3. A caridade fraterna é sinal de amor a Deus.
“Se alguém disser que ama a Deus, e odiar o seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, como amará a Deus a quem não vê?” (1 Jo. 4, 20).
4. É o sinal do cristianismo. Jesus indicou o amor do próximo como o sinal para se conhecerem os seus discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo. 13, 35).
5. Por isto Deus exige de quem o ama que ame também o próximo (1 Jo. 4, 21). Não aceita as oferendas dos que primeiro não se reconciliarem com o seu irmão (Mt. 5, 23-24).
Por amor de Deus
1. Devemos amar ao próximo primeiramente por amor de Deus. A caridade é uma virtude sobrenatural. No próximo vemos:
a) a imagem de Deus (Gn. 1, 26);
b) um filho de Deus (Mt. 23, 9), participante da bondade divina;
c) um membro de Jesus Cristo. O próprio Jesus Cristo reputa feito a si o que foi feito ao mínimo de seus irmãos (Mt. 25, 40);
d) um nosso irmão. Fomos todos criados por Deus e remidos pelo sangue de Cristo, que nos ensinou a verdadeira fraternidade, na qual chamamos a Deus de Pai: “Padre nosso, que estais no céu”.
2. Não é caridade o que se baseia na simples compaixão natural ou em meras considerações humanas.
Amar os inimigos
1. Somos obrigados a amar até os próprios inimigos. É doutrina expressa de Jesus:
“Tendes ouvido o que foi dito: Amarás a teu próximo e odiarás a teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem a quem vos odeia, orai pelos que vos perseguem e caluniam” (Mt. 5, 43-44).
2. Isto fazemos:
a) não guardando ódio. “Todo o que tem ódio a seu irmão é homicida” (1 Jo. 3, 15).
b) perdoando de coração: “Se não perdoardes aos homens, também vosso Pai celeste não vos perdoará vossos pecados” (Mt. 6, 15).
c) não querendo vingar-se.
d) fazendo por eles o bem que queremos que nos façam.
3. O amor aos inimigos não é impossível. De fato:
a) Jesus fez dele um preceito: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos” (Mt. 5, 44). E ele não nos iria dar um preceito impossível.
b) Deu-nos o exemplo, perdoando a seus algozes (Lc. 23. 34), o que tem sido seguido pelos santos: Sto. Estêvão (At. 7, 59), São João Gualberto (dia 12 de julho), Santa Joana de Chantal (21 de agosto).
ORDEM NA CARIDADE
1. Há na caridade uma ordem de pessoas. Se devemos amar o próximo como a nós mesmos, somos o padrão de nosso amor ao próximo. A caridade bem ordenada começa por si mesma.
A ordem de pessoas é a seguinte: cônjuge, filhos, pais, irmãos, parentes, amigos, benfeitores, correligionários (Gl. 6, 10), conhecidos, concidadãos, estrangeiros.
2. Há uma ordem de necessidade: espiritual e corporal. Mesmo em nós, amar de preferência o que vale mais.
A salvação vale mais do que a vida – e somos obrigados a dar a vida pela salvação eterna.
A alma vale mais do que o corpo: “Se o teu olho te escandaliza, arranca-o e lança-o fora” (Mt. 5, 29).
A virtude vale mais do que o saber – e devemos afastar-nos dos conhecimentos nocivos à virtude.
A honra vale mais do que a saúde – e importa guardar aquela, mesmo com detrimento desta.
O dever vale mais do que o prazer – e devemos abandonar os divertimentos que impedem o cumprimento dos deveres.
Assim, daremos aos valores espirituais tanto maior cuidado quanto o espírito é superior ao corpo.
3. No amor ao próximo respeitaremos do mesmo modo a hierarquia de valores.
a) A salvação de uma alma prevalece sobre qualquer necessidade temporal nossa ou alheia. (Em que casos se pode dar isto?).
b) Para salvar uma vida, somos obrigados a sacrifícios mais ou menos importantes. Mas não somos obrigados a expor a própria vida para salvar a de outrem.
c) Devemos preferir as obras de caridade espirituais, que são entre nós, infelizmente, as mais desprezadas. (A que obras de caridade espiritual v. se pode dedicar?).
Às vezes, porém, somos obrigados a começar pelo corpo para chegarmos aos cuidados espirituais que, na intenção, são os primeiros. “É inútil pregar conformidade e resignação a homens famintos” (Troniolo). As Conferências Vicentinas, cuja finalidade é espiritual, começam sempre pelo socorro material.
4. É contra a caridade para conosco expor-nos a perigo grave de pecar, em benefício espiritual do próximo. (Que pensar de certos jovens que vão para os bailes dançar para fazer Ação Católica?).
5. A caridade espiritual é de todas a primeira. A caridade consiste no amor de Deus, isto é, no estado de graça. Então a caridade conosco é nos mantermos no estado de graça, empregando para isto os meios. Com o próximo, a caridade é levá-lo à graça divina, usando igualmente dos meios aptos.
6. Na própria necessidade há uma ordem. Podemos achar-nos em necessidade extrema, grave ou comum.
Qualidades da caridade
1. Sobrenatural, para ser caridade. Vemos no próximo um filho de Deus, em membro de Jesus Cristo.
2. Operosa. Virtude de obras e não apenas de afetos. Se é verdade que as obras sem amor não são caridade, também os afetos só não bastam.
“Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem do alimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos; porém não lhes derdes as coisas necessárias ao corpo, de que lhes aproveitará?” (Tgo. 2, 15-16).
3. Universal, não só enquanto atinge a todos os homens, mas também enquanto envolve todos os atos e anima todas as virtudes cristãs, que sem ela nada valem.
“Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como um bronze que soa ou como um cimbalo que tine” (1 Cor. 13, 1). (Ver o elogio da caridade feito por S. Paulo em 1 Cor. cap. 13.).
Para viver a doutrina
1. A verdadeira caridade quer o maior bem do próximo. No entanto, dizer mal do próximo, zombar, divulgar seus defeitos e faltas, não socorrê-lo nas necessidades espirituais, não ajudá-lo a sair do pecado ou das ocasiões perigosas – são faltas de todo dia. O meu amor ao próximo deve tomar novo incremento.
2. Toda gente se queixa da grande miséria espiritual do mundo moderno. Há no meio em que vivo indícios desta miséria? (Examinar e determinar). E eu tenho o dever de minorá-la.Converter a uns para a prática da Religião, chamar outros para a freqüência dos Sacramentos, cuidar de que todos vivam na graça divina – eis a missão da Ação Católica. Como poderei eu fazer isto? (Responder de modo prático, que encaminhe à ação).
3. A verdadeira caridade fraterna é fazer o próximo viver na graça santificante. Ora, há milhões de almas que nem conhecem o verdadeiro Deus. Que faço pelas Missões? Os missionários fazem um trabalho sobrenatural, mas precisam também de meios humanos para tratarem da conversão dos pagãos. Que posso eu fazer para ajudar aos missionários? (Responder de modo prático, que leve à ação).
4. Ao nosso lado há hereges – protestantes e espíritas. Afastados da verdadeira fé, errando o caminho da salvação. Sou obrigado a amá-los, interessando-me pela sua conversão e salvação. Tenho feito isto? Que posso fazer neste sentido? (Responder). Há um apostolado de preservação contra essas heresias: advertir os incautos contra as sessões, remédios e enganos do espiritismo; contra a propaganda (livros, revistas, pregações) protestante.
5. É a caridade uma das virtudes mais fáceis de praticar, desde que a tenhamos no coração. Não faltam ocasiões.
Em vez de palavras ásperas, palavras bondosas; em vez de zombarias que desagradam, um trato amável; em vez de rixas, união com todos; em vez de rivalidades, que provocam discórdias, humildade, que desfaz competições; em vez de maledicências e juízos temerários, dizer e pensar bem de todos. Há uma infinidade de pequenos serviços, há muitas ocasiões de proporcionar alegria, há inúmeros meios de mostrar gentileza que uma pessoa caridosa pode e sabe aproveitar.
6. É o amor aos inimigos um dos mais difíceis preceitos da caridade cristã. Longe de ser fraqueza, como pensa o mundo, é prova de grande valor moral. Sinal de força é o homem vencer-se, dominar os seus baixos instintos. A melhor prova de que isto é mais heroísmo do que fraqueza, é que muitos são capazes de odiar e vingar-se, poucos de perdoar e amar. Mas somos cristãos para seguir e imitar a Jesus Cristo.
7. Se somos obrigados a amar a todos, devemos no entanto respeitar a ordem na caridade. Nesta ordem há um ponto que devemos salientar: é a solidariedade dos católicos.
Preferir o médico, o advogado, o comerciante, o operário, etc., que comungam da mesma fé conosco é recomendação do próprio São Paulo: “Façamos o bem a todos, mas principalmente aos irmãos na fé” (Gl. 6, 10). (Que mal pode fazer numa família um médico sem religião?).
A preferência aos colégios e professores católicos é uma imposição da Igreja, por causa dos perigos que os anticatólicos trazem à fé.
8. Nunca nos devemos expor a perigo de pecar, mesmo para cuidar da salvação dopróximo. Se a companhia de certo amigo me faz mal (mesmo que eu lhe faça algum bem), devo deixá-la. Se freqüentando certo divertimento corro perigo espiritual, devo abandoná-lo ainda que a minha presença evite alguns males. Se uma leitura me prejudica moralmente, ainda que me ilustre o espírito, sou obrigado a abandoná-la.
(O Caminho da Vida, pelo Pe. Álvaro Negromonte. 15ª edição. Pgs. 194-202).
Fonte: http://a-grande-guerra.blogspot.com/2012/02/caridade-fraterna-padre-alvaro.html
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