Festa de Nossa Senhora Aparecida:
A Pequena Imagem da Senhora da Conceição
Frederico de Castro
Adaptado. 1ª. Parte com excertos do livro A Senhora da Conceição Aparecida,
do Pe. Júlio J. Brustoloni, C. SS. R. – 1979; 2ª. Parte autoria própria.
Nada mais justo que na Festa da Padroeira do Brasil seja revigorada a sua devoção com nada mais, nada menos que as circunstâncias que fazem com que Nossa Senhora seja a Mãe, Rainha e Protetora do Brasil e para sempre!
VIVA NOSSA SENHORA APARECIDA!
MÃE, RAINHA E PROTETORA DO BRASIL
1ª. PARTE
A Herança de uma Vocação:
A Pequena Imagem da Senhora da Conceição
Os portugueses nos legaram uma especial devoção a Nossa Senhora da Conceição. Desde o descobrimento, numerosos foram os oratórios, ermidas e capelas, nos quais se venerava a Imaculada Virgem Maria, a Senhora da Conceição.
Esta devoção criou profundas raízes na religiosidade popular brasileira. Foi dotada com privilégios e festas oficiais desde 1646, quando D. João IV, Rei de Portugal, proclamou Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal e seus domínios. (Esse é um fato interessante que desabona o nacionalismo em desfavor do patriotismo: são coisas realmente distintas, embora muita gente não se dê conta, e sobre elas se escreverá mais adiante no blog do SPES.)
Além de caracterizar a nossa religiosidade, esta devoção inspirou as artes e as letras. Obras primorosas foram executadas, sobretudo na pintura e na cerâmica religiosa.
A mais popularmente célebre, não a mais rica ou artística, é a Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Pequena e singela, medindo apenas 36cm de altura e 2,550kg, despida das cores originais e quebrada, ela se tornou objeto da devoção carinhosa de todo o povo brasileiro. Esta imagem, foi comprovado por peritos, trazia pintado no seu barro claro, um manto azul escuro forrado de vermelho granada, cores oficiais das imagens de Nossa Senhora da Conceição, conforme normas ditadas por Dom João IV. É um dos mais preciosos exemplares da escultura cerâmica religiosa do Brasil.
Diversos estudiosos da imaginária seiscentista estudaram a Imagem de Nossa Senhora Aparecida e concluíram que ela pertence ao acervo deste período. Entre eles cita-se o Dr. Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, os beneditinos Dom Clemente Maria da Silva Nigra e Dom Paulo Lachenmayer e, finalmente, os artistas Dr. Pietro Maria Bardi, Maria Helena Chartuni e o Dr. João Marino, do Museu de Arte de São Paulo.
Sobre a Imagem em Sua Forma e Matéria: Moldada em Barro Paulista
A Imagem é de barro cozido. A primeira informação escrita, sobre a matéria de que foi feita, se encontra no inventário dos bens da Capela, realizado a 5 de janeiro de 1750.
Entre a relação das imagens existentes na mesma, encontra-se esta referência: “Uma imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida que tem de comprimento perto de dois palmos, a mesma dos milagres que apareceu no rio Paraíba, que é de barro”.
O Pe. Francisco da Silveira, do Colégio dos Jesuítas da Bahia, dá conta deste pormenor. Enviando, a 15 de janeiro de 1750 ao Superior Geral em Roma, o relatório da Missão pregada no Povoado de Aparecida em 1748 por dois missionários jesuítas, descreve a Imagem nestes termos: “Aquela Imagem foi moldada em barro, de cor azul escuro, conhecida pelos muitos milagres realizados”.
Além destas informações, não se teve outras até bem pouco tempo, pois a imagem nunca tinha sido objeto de estudo. Diversamente aconteceu com outras do mesmo material e da mesma época. Estas, tanto as de procedência europeia, como as nacionais, estudadas por colecionadores peritos, foram identificadas. A maioria delas tem seu etilo, material, procedência e autoria definidos.
O primeiro a estudar a imagem de Nossa Senhora Aparecida sob este aspecto foi o Sr. Pedro de Oliveira R. Neto. Conhecedor da imaginária brasileira do período seiscentista, ele teve a oportunidade de estuda-la e apresentar o resultado na sua conferência proferida no Ano Jubilar de 1967. “A Imagem, diz ele, encontrada pelos pescadores junto ao Porto de Itaguaçu, e que hoje se venera na Basílica, é de barro cinza claro, como constatei, barro que se vê claramente em recente esfoladura no cabelo”.
O barro paulista, depois de cozido, se torna cinza claro, às vezes rosado. É diferente do barro utilizado na Bahia ou em outras regiões; o da imagem é da região de São Paulo. O mesmo afirmaram, e com mais possibilidade de estudar o material, os artistas do Museu de Arte de São Paulo “Assis Chateaubriand”, em 1978. “Constatamos, pelos fragmentos da Imagem em terracota, que ela é da primeira metade do século XVII, de artista seguramente paulista, tanto pela cor como pela qualidade do barro empregado e, também, pela própria feitura da escultura”.
Tanto o primeiro como estes últimos artistas reconhecem, por vestígios encontrados na própria Imagem, que originariamente ela era policromada nas cores oficiais azul e vermelho. Pelo fato, porém, de ficar por muitos anos submersa no lodo das águas e, posteriormente, exposta ao lume e à fumaça dos candeeiros e velas, quando ainda se encontrava em oratório particular dos pescadores e no oratório de Itaguaçu, a imagem de Nossa Senhora Aparecida adquiriu a cor que hoje conserva: dita castanho brilhante.
Diz ainda o Sr. Pedro de Oliveira: “Sob a pátina morena da imagem, como verniz criado pelo uso e pelo tempo, fica escondido o barro paulista”.
Sobre a Autoria da Arte: Esculpida por um Monge Fluminense
Mais difícil, sem dúvida, é determinar o nome do escultor da pequenina imagem. Não traz data nem sigla que facilite o trabalho. Entretanto, o primeiro passo importante para identificá-lo foi dado quando os estudiosos, já referidos, determinaram a época e o estilo de sua feitura.
Todos eles afirmam que a Imagem é obra de um discípulo do mestre ceramista beneditino Frei Agostinho da Piedade e foi esculpida pelo ano de 1650. Nascido em Portugal, professou e viveu na Bahia. Virtuoso e hábil escultor teve seu período áureo entre 1630 e 1642. Não consta que tenha saído da Bahia. Suas imagens, esculpidas de barro, acham-se atualmente conservadas na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
Fez escola e discípulos; entre os quais o mais célebre é seu irmão de hábito Frei Agostinho de Jesus. Este nasceu no Rio de Janeiro, provavelmente entre 1600 e 1610, professou na Bahia, onde conviveu com seu mestre. Ordenou-se sacerdote na Europa, voltando para Salvador em 1634 e faleceu a 11 de agosto de 1661.
Sobre ele escreveu seu conterrâneo Frei Paulo da Conceição Ferreira, na crônica do Mosteiro do Rido de Janeiro: “Para se ordenar de sacerdote foi ao Reino, e voltando a este mosteiro se ocupava na pintura, e em fazer imagens de barro para o que tinha especial graça, e direção”.
Trabalhou em São Paulo por volta de 1650 e seguramente também no Mosteiro de Parnaíba, onde foram encontradas diversas obras suas. Ao contrário de Frei Agostinho da Piedade, que gravava seu nome e data nas imagens por ele esculpidas, Frei Agostinho de Jesus não identificava as suas. Mas imprimiu nelas traços característicos que as distinguem das de seu mestre.
A respeito da feitura da imagem, Pedro de Oliveira afirma: “A Imagem de Nossa Senhora Aparecida, encontrada prodigiosamente no rio Paraíba em outubro de 1717, é paulista, de arte erudita, feita provavelmente na primeira metade de 1600, por discípulo, mas não pelo próprio mestre, do beneditino Frei Agostinho da Piedade”.
Esse autor analisa as obras de Frei Agostinho da Piedade e de seu discípulo Frei Agostinho de Jesus, sobretudo deste último, em terras de São Paulo e chega a reunir as linhas características de seu estilo. Os detalhes mais determinantes são: forma sorridente dos lábios, descobrindo os dentes da frente; forma do rosto, com queixo encastoado, no meio do qual há uma covinha; o penteado; as flores em relevo nos cabelos; o diadema na testa, como um broche com três pérolas pendentes e o porte empinado. “Notamos na imagem da Senhora Aparecida a perfeição das mãos postas, pequeninas e afiladas como as duma menina e as mangas simples e justas, de muito requinte, terminando no punho esquerdo dobrado à maneira dos mestres seiscentistas do barro paulista”.
Os peritos em cerâmica religiosa estão certos que a imagem foi moldada por um discípulo de Frei Agostinho da Piedade. E como a imagem de Nossa Senhora Aparecida traz alguns detalhes próprios das esculturas de Frei Agostinho de Jesus, discípulo do grande mestre Agostinho da Piedade, sua feitura lhe é atribuída. O primeiro a chegar a esta conclusão foi o Irmão Paulo Lachenmayer do Mosteiro de São Bento de Salvador na Bahia. Sua opinião foi posteriormente endossada pelo seu confrade Dom Clemente, que nas suas pesquisas havia identificado as obras de Frei Agostinho da Piedade e de Frei Agostinho de Jesus.
“Ao ver uma cópia da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, diz o Irmão Paulo, fiquei como que hipnotizado; senti que estava diante duma obra de Frei Agostinho de Jesus, tal a evidência de seus traços e estilo. Há dezenove anos – desde 1960 – guardei para mim esta descoberta, que agora achei oportuno revelar. Se Frei Agostinho da Piedade não tivera mais tempo de modelar por ter sido nomeado administrador da fazenda de Itapoã em 1642 e depois administrador da igreja de Nossa Senhora das Graças, ficou compensado com seu discípulo, autor da Imagem da Rainha do Brasil, que tem depositada no seu semblante a herança do mestre”.
Na segunda metade do século dezessete, devotos da Senhora da Conceição que migravam de São Paulo, Santana do Parnaíba, disputavam a posse de suas imagens. Em muitas regiões, oratórios de famílias, fazendas e povoados as possuíam. “Todas estas imagens, diz Pedro de Oliveira, encontradas em lugares tão diferentes, puderam ter sido transportadas, e naturalmente o foram, por seus devotos de outros lugares onde foram feitas, e esse é o caso da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, encontrada há duzentos e cinquenta anos”.
A Passagem pela Vila do Conde de Assumar*
A corrida do ouro nas Minas Gerais e na região do rio Paraíba passou a um longo período de mera subsistência, até meados do século dezoito, quando se implantou na região o ciclo da cana com seus engenhos e sua riqueza.
Desenvolve-se, pois, a policultura de natureza alimentar: milho, mandioca, arroz, feijão e criação de animais domésticos. Parte das grandes sesmarias desaparece. Nas atividades rurais os habitantes provêm as próprias necessidades e utilizam as sobras para o comércio de beira de estrada, mantido com as caravanas e tropas que que demandavam as Minas e os portos de Parati e Ubatuba. A procura do solo para as lavouras trouxe modificação no sistema fundiário; medias e pequenas propriedades começam a ser mencionadas nos documentos a partir de 1710. Mais proprietários radicam-se no Itaguaruçu, Ponte Alta, Ribeirão do Sá, Pitas e Aroeiras.
No ano de 1717, a situação política em São Paulo era de relativa calma, o que já não se podia afirmar da região mineradora de Minas Gerais, que desde 1710 pertencia à Capitania de São Paulo. Na região das Minas, três levantes já tinham acontecido e, por ocasião da chegada do novo governador da Capitania, a situação era tensa. Esta era a razão por que o governador da Capitania de São Paulo residia em Ribeirão do Carmo e governava de Vila Rica. Antes de findar o quadriênio de Dom Braz Baltazar da Silveira, foi nomeado em seu lugar, em 22 de dezembro de 1716, Dom Pedro de Almeida Portugal, Conde de Assumar; governou a Capitania até 4 de setembro de 1721.
Conforme consta do “Diário da Jornada”, Dom Pedro de Almeida Portugal chegou ao Rio de Janeiro em julho de 1717, e, no dia 24 do mesmo mês, partiu pelo mar, via Santos, até São Paulo, onde chegou a 31 de agosto. Tomou posse do governo da Capitania a 4 de setembro na igreja do Carmo. Na posse, a Patente de nomeação foi lida por Domingos da Silva, secretário do governador demissionário, Dom Braz Baltazar. O povo de Vila Rica havia pedido a ele que não se retirasse de Minas antes da chegada do Conde de Assumar, seu sucessor.
Dom Pedro, saiu de São Paulo a 27 de setembro e depois de percorrer o caminho do Vale, detendo-se nas vilas, chegou a Pindamonhangaba no dia 13 de outubro. Prosseguiu viagem no dia 16, pernoitando no sítio de Antônio Cabral. E, finalmente, a 17 de outubro, domingo, depois de participar da Missa pela manhã no mesmo sítio, seguiu viagem chegando à Vila de Guaratinguetá.
Na chegada do Conde, houve recepção festiva. Duas companhias de infantaria, composta uma de portugueses e outra de filhos da terra, lhe prestaram as devidas honras. No dia seguinte, proveu ofícios e alguns postos confirmando a patente a outros. Na ocasião, governava a Vila o Capitão-Mor Domingos Antunes Fialho.
Nas Vilas por onde passou organizou os quadros administrativos com muito rigor e foi severo com funcionários faltosos. Em Guaratinguetá, mandou prender e castigou rebeldes e criminosos. Com efeito, o ambiente refletia as lutas e rivalidades na região mineradora que se tornara reduto de criminosos e marginais. O cronista da Jornada retrata a realidade com palavras nada lisonjeiras: “Os naturais são tão violentos e assassinos, que raro é o que não tenha feito morte, alguns sete e oito, e no ano de mil setecentos e dezesseis, se mataram dezessete pessoas”.
O Conde permaneceu na Vila até o dia 30 de outubro, enquanto aguardava a chegada de sua bagagem que seu ajudante Payo Veloso fora buscar em Parati. A crônica da Jornada não cita os nomes das autoridades civis e religiosas do lugar. Estranha-se que o padre jesuíta que o acompanhava, tão minucioso em relatar fatos relacionados com as diversas igrejas, silencie totalmente durante os 15 dias que a comitiva permaneceu em Guaratinguetá, nada mencionando sobre a paróquia e o vigário.
Sua visita, porém, ficou na história (e como!). Para a alimentação da comitiva composta de índios e negros, chefiados por Payo Veloso e aqueles por João Ferreira, o Senado da Câmara havia convocado os pescadores para apanharem boa quantidade de peixes.
Numa destas pescarias a imagenzinha de Nossa Senhora da Conceição foi pescada prodigiosamente no rio Paraíba (vem do Tupi “para’iwa” e significa rio imprestável).
A Aparição Segundo a Narrativa do Livro do Tombo
Com o título “Notícia da Aparição da Imagem da Senhora”, o Pe. João de Morais e Aguiar inicia a descrição do encontro da Imagem. É singela e curta, em estilo saboroso e fluente. Consta de duas partes: a primeira fala do encontro, e a segunda dos prodígios e da devoção que já existia em 1757.
A narrativa determina a época do achado, mencionando também a ordem da Câmara que ocasionou o encontro da imagem. Houve um erro de dois anos, pois o Conde esteve em Guaratinguetá em 1717 e não em 1719. “No ano de 1719, pouco mais ou menos, passando por esta Vila para as Minas, o Governador delas e de São Paulo, o Conde de Assumar Dom Pedro de Almeida Portugal, foram notificados pela Câmara os pescadores para apresentarem todo o peixe que pudessem haver para o dito Governador.” E os pescadores foram identificados: “Entre muitos foram a pescar Domingos Martins Garcia, João Alves e Filipe Pedroso com suas canoas”.
Iniciaram a pescaria no Porto de José Correa Leite, distante de Itaguaçu cerca de seis quilômetros rio acima. E destaca que naquela longa distância a pescaria foi infrutífera. “E principiando a lançar suas redes no porto de José Correa Leite, continuaram até o porto de Itaguaçu, distância bastante, sem tirar peixe algum”.
Naquela região, o rio Paraíba era todo sinuoso e suas margens cobertas de vegetação com muitas passagens alagadiças, próprias para a proliferação de peixes. (mas como o próprio nome acusa era um rio sem peixes)
No Porto de Itaguaçu, porém, deu-se o fato notável. João Alves apanha na sua rede de rasto o corpo duma pequena imagem. Repetindo os lanços, retira a pouca distância a cabeça. “E lançando neste porto, tirou o corpo da Senhora, sem cabeça; lançando mais abaixo outra vez a rede tirou a cabeça da mesma Senhora”.
É interessante observar como o autor já se preocupava com a origem da imagem e supõe que alguém a lançara naquele lugar. “Não se sabendo nunca quem alia a lançara”. Em seguida narra o desfecho da pescaria e do achado da imagem que o pescador, reverente, guardou em sua canoa.“Guardou o inventor esta Imagem em um tal ou qual pano, e continuando a pescaria, não tendo até então tomado peixe algum, dali por diante foi tão copiosa a pescaria em poucos lanços, que receoso, e os companheiros de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, se retiraram a suas vivendas, admirados deste sucesso.”
O sabor literário e a simplicidade desta passagem são dignos de nota; em poucas palavras transmite um fato que irá repercutir, em pouco tempo, por toda a parte.
Na segunda parte do documento são relacionados os fatos acontecidos em torno da imagem. Primeiramente a devoção familiar e depois o culto popular que lhe foi prestado. Filipe Pedroso, talvez o mais velho dos pescadores, conservou-a em sua casa junto do ribeirão do Sá e Ponte Alta por espaço de cerca de 15 anos. Mudou-se depois para o Itaguaçu, entregando-a a seu filho Atanásio.
Junto do porto onde foi encontrada, deram-se os fatos decisivos para o culto daquela imagem. Atanásio Pedroso constrói um pequeno oratório e, junto dele, as famílias vizinhas se reuniam para o culto semanal: cumpriam de modo especial aos sábados, suas devoções marianas, com reza do terço e canto das ladainhas.
Em uma dessas rezas, Nossa Senhora manifestou seu agrado com um sinal muito significativo. Aquelas famílias tomaram-no como um sinal de Deus que as impressionou profundamente. O autor menciona então o fato como o primeiro prodígio. “Em uma destas ocasiões se apagaram as luzes de cera da terra repentinamente, que alumiavam a Senhora, estando a noite serena, e querendo logo Silvana da Rocha acender as luzes apagadas, também se viram logo de repente acesas, sem intervir diligência alguma; foi este o primeiro prodígio.”
Este acontecimento, bem como outros que se seguiram, modificou a história daquela pequenina imagem de Nossa Senhora da Conceição. Uma capelinha foi construída, e o povo sente-se atraído por uma força do alto, correspondendo com muita fé e devoção.
A Imagem deixou de ser propriedade de uma família e passou a pertencer a todos. E os seus devotos a chamavam “Senhora da Conceição Aparecida”. O documento diz expressamente que a capelinha foi construída pelo Pe. Vilella com a ajuda do povo.
O último período da descrição do encontro refere-se ao culto que já estava sendo oficialmente prestado à imagem na Capela do “Morro dos Coqueiros”, em 1757. O então vigário Pe. Dr. João Morais e Aguiar se interessa em deixar bem claro que as graças concedidas por Nossa Senhora Aparecida foram investigadas e estudadas e afirma que os depoimentos das pessoas agraciadas foram catalogados num Sumário. Conclui anotando o fenômeno que se verificava na época: “E ainda continua a Senhora com seus prodígios, acudindo à sua Santa Casa, romeiros de partes muito distantes a gratificar os benefícios recebidos desta Senhora.”
A Notícia pelos Missionários jesuítas
O mais antigo documento escrito sobre o encontro da Imagem, que atualmente se conhece, é o que está contido na Ânua da Província Brasileira de 1748 e 1749, dos padres jesuítas.
O relatório foi escrito pelo Pe. Francisco da Silveira a 15 de janeiro de 1750, sendo enviado à Cúria Generalícia da Companhia de Jesus, em Roma. O relatório menciona, entre outros assuntos, as missões populares pregadas por dois missionários jesuítas em doze paróquias e em outras capelas de povoados. O resumo anota de uma maneira global o resultado obtido, descrevendo com pormenores a missão pregada na Vila de São Paulo e no povoado de Aparecida.
Os missionários chegaram ao conhecimento da realidade de Aparecida durante a missão e a transmitiram ao cronista. Mesmo sendo um resumo, o documento é de inestimável valor para a história da imagem e da Capela, porque foi escrito somente 32 anos depois do seu encontro. Escrito em latim, é conciso e descreve o achado e o material de que foi feita a imagem. Como mestre em teologia, seu autor apresenta também a razão da grande afluência de peregrinos à Capela para venerar a Imagem. O texto em vernáculo é este:
“Aqueles dois sacerdotes dos nossos, chegaram a doze paróquias, além de outas capelas particulares dos povoados, nos quais permaneceram por alguns dias, a fim de atenderem o mais possível o bem espiritual dos participantes.
Chegaram finalmente à Capela da Virgem da Conceição, situada na Vila de Guaratinguetá, que os moradores chamam de “Aparecida” porque, tendo os pescadores lançado as suas redes no rio, recolheram primeiro o corpo, depois, em lugar distante, a cabeça. Aquela Imagem foi moldada em argila, de cor azulada, famosa pelos muitos milagres realizados. Muitos afluem de lugares afastados, pedindo ajuda para as próprias necessidades.”
Deve-se este tesouro à incansável pesquisa do historiador Pe. Serafim Leite SJ que o encontrou em 1945.
Nenhum comentário:
Postar um comentário