Recebeu, durante uma visão, a
ordem de Nosso Senhor para pregar pelo mundo inteiro a verdadeira Fé, sendo
favorecido largamente com o dom dos milagres. Seus inflamados sermões atraíam
multidões, obtendo a graça de incontáveis conversões, inclusive de judeus e
maometanos
São Vicente Ferrer nasceu em
1350, em Valência, cidadela do catolicismo em uma Espanha que se encontrava
ainda em guerra contra o maometano invasor.
Sua casa natal não era distante
do Real Convento da Ordem dos Pregadores. Este fato favoreceu a decisão do
jovem Vicente de vestir o hábito dos dominicanos.
A partir de sua profissão
religiosa, em 1368, até ser ordenado sacerdote, em 1374, alternou o estudo e o
ensino da filosofia com a aprendizagem da teologia em Lérida, Barcelona e
Tolosa. Com perfeito conhecimento da exegese bíblica e da língua hebraica,
regressou a Valência, onde ensinou teologia, escreveu, pregou e aconselhou.
Anos mais tarde, em Avignon
(França), caiu gravemente doente a ponto de quase falecer. Foi quando teve a
visão de Nosso Senhor Jesus Cristo, acompanhado de São Domingos e São
Francisco, conferindo-lhe a missão de pregar pelo mundo. E, repentinamente, recuperou
a saúde.
A 22 de novembro de 1399,
deixou aquela cidade francesa para levar ao Ocidente a Palavra de Deus. E, em
meio à grande crise espiritual na qual estava imersa a sociedade daquela época,
passou a derramar tesouros de sabedoria.
Com efeito, a França
encontrava-se assolada pela Guerra dos cem anos; na Itália havia os conflitos
entre guelfos e gibelinos; as regiões espanholas de Castela e Aragão estavam
mergulhadas na anarquia; e fora das fronteiras da cristandade havia o perigo
maometano.
Nessas condições, percorreu
inúmeras aldeias e cidades dos citados países, chegando até a Suíça.
Sua oratória, brilhante e cheia
de fogo, mantinha entretanto a lógica imperturbável das argumentações
escolásticas. Mas a atração que as pessoas sentiam por suas palavras era devida
principalmente a dois fatores: a percepção da presença de Deus nele e o enlevo,
cheio de consolações, ocasionado pela graça divina.
± sua voz as inimizades
públicas cessavam, os pecadores sentiam-se movidos ao arrependimento e as
pessoas sedentas de perfeição seguiam-no. O auditório das suas pregações era
sempre de multidões, às vezes mais de 15.000 pessoas, portanto ao ar livre.
Contemporâneos do Santo relatam que, falando na sua própria língua, era
entendido mesmo pelos que não a conheciam.
Dez mil pessoas osculando suas
mãos durante onze dias
Nos dias em que São Vicente
Ferrer pregou em Tolosa, por exemplo, não houve pregador que quisesse fazer
sermão, porque todo mundo ia atrás do Santo. E sendo tão grande o afluxo de
pessoas, que não podiam acomodar-se bem no claustro do convento onde ele
falaria, o Arcebispo pediu que ficasse hospedado em seu palácio e pregasse na
praça de Santo Estêvão, onde podia caber público maior.
Condescendeu o Santo, pelo fato
de pertencer o Arcebispo à sua Ordem religiosa, e foi para o palácio. Pregou
quase todos os dias e celebrou Missa solene na referida praça, à qual acudiam
as pessoas com tão grande empenho que, para conseguir lugar, se levantavam à
meia noite e para lá iam com archotes, cada um trazendo seu próprio assento.
Porque, embora se diga que era
ouvido de longe como de perto, e assim o era comumente, todos queriam estar
próximos dele, para vê-lo bem e observar como oficiava as cerimônias
religiosas, como curava os doentes que vinham ao palanque onde se encontrava e,
finalmente, para poder beijar-lhe as mãos, logo que terminava o sermão, e
voltar para casa tendo recebido sua bênção.
Em um vilarejo, as dez mil
pessoas que se reuniram para ouvi-lo puseram-se a oscular sua mão, repetindo
tal gesto nos onze dias subseqüentes.
Todas essas honras ele as
referia a Deus, e dizia com o coração e com os lábios: "Non nobis,
Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam -- Não a nós, Senhor, não a nós,
mas ao teu nome dá glória" (Salmo 113).
Para evitar a vanglória que de
tais honras lhe poderia advir, antes de entrar nas diversas localidades,
seguindo o conselho do Divino Mestre que diz: "Vigiai e orai para que
não entreis em tentação" (Mt. 26, 41), ajoelhava-se com os que vinham
em sua companhia e, as mãos postas em oração, erguia os olhos ao céu.
Provavelmente rogava a Deus que o guardasse da soberba e da vanglória, a qual,
como afirma Santo Agostinho, está sempre espreitando nossas boas obras, para
que percam seus méritos diante de Deus.
De fato, estava o santo tão longe
de comprazer-se com a honra que lhe prestavam e com a autoridade que lhe davam,
que, algumas vezes, pedindo-lhe os enfermos a bênção para alcançar de Deus a
saúde, não queria dá-la, a fim de fugir da vanglória; se bem que, depois,
movido de misericórdia, fazia o que lhe rogavam e os despedia muito contentes.
Para não ser esmagado, andava
no meio de um quadrilátero de madeira
Ao chegar perto de uma cidade,
a população vinha ao seu encontro, e todos disputavam um lugar próximo dele. E
só escapava de ser esmagado porque andava no meio de pranchões sustentados por
homens possantes. Em várias cidades, enquanto durava sua pregação, os negócios
paravam, as lojas fechavam, as audiências dos próprios tribunais eram
suspensas.
Os sermões duravam
habitualmente duas ou três horas. Numa Sexta-feira Santa, em Tolosa,
prolongou-se por seis horas seguidas! Os moradores dessa cidade espanhola
costumavam dizer: "Este homem veio a esta terra para nossa salvação ou
para nossa perdição. Para que nos salvemos, se fizermos o que ele nos diz; para
que nos condenemos, se nos descuidarmos de obedecer-lhe. Porque até aqui
podíamos dizer que não tínhamos quem nos ensinasse tão bem o que somos
obrigados a fazer. E agora já não podemos dizê-lo".
Foi tão grande a devoção que os
tolosanos lhe dedicaram que, após sua partida da cidade, ficaram com relíquias
suas e não quiseram desfazer o palanque no qual havia pregado; antes o beijavam
e tocavam como coisa de Deus.
O Santo ressuscita uma
desafiante judia e a converte
São Vicente trabalhou
ardentemente pela conversão dos judeus e dos maometanos. Há historiadores que
afirmam que converteu 25.000 judeus e 8.000 mouros. Exagero? Com milagres tão
abundantes e portentosos, a pergunta não deve se pôr a um espírito sério e
objetivo.
Assim, no Domingo de Ramos de
1407, na igreja de Ecija (Espanha), uma dama judia, rica e poderosa, que seguia
seus sermões por curiosidade e desafio, sem ocultar os sarcasmos que fazia a
meia voz, atravessou de improviso a multidão para sair. Não conseguia conter-se
de raiva. O povo, explicavelmente, ficou indignado. "Deixai-a sair, disse
o Santo, porém afastai-vos do pórtico", o qual caiu sobre ela, matando-a.
"Mulher, em nome de
Cristo, volte à vida!", ordenou ele, e assim se fez. Após um tal
milagre, não é de causar estranheza que essa senhora tenha prontamente se
convertido à verdadeira Religião...
Naquela cidade, uma procissão
anual passou a comemorar a morte, ressurreição e conversão da judia.
O próprio Santo profetiza sua
canonização
Com o correr dos anos, sentindo
o peso da idade, o cansaço e os males físicos muitas vezes o obrigavam a
caminhar amparado por outras pessoas.
Porém, quando começava a pregar
tudo desaparecia. Seu rosto se transfigurava como se a pele retomasse o frescor
da juventude, seus olhos brilhavam, a voz era clara e sonora. O tom de
convicção, que transparecia em suas palavras, deixava atônitos os ouvintes. Por
isso, não causa admiração que, por efeito da graça, os frutos dos sermões
fossem tão copiosos, de maneira que eram sempre necessários muitos sacerdotes
para ouvir as confissões.
São Vicente Ferrer fez
laboriosos esforços para obter a conclusão do Cisma do Ocidente, pesando para
isso sua extensa influência na Cristandade.
Apesar de tantas viagens,
fadigas e penitências, sua missão apostólica continuava ainda em 1419.
Quando se encontrava na
Bretanha (França), percebeu que sua vida estava chegando ao fim, por causa de
uma chaga que lhe envenenara a perna.
Como desejavam que morresse em
sua terra natal que tanto amava, colocaram-no em um navio à toda pressa, o qual
navegou toda a noite. Enquanto isto, nas ruas as senhoras gritavam: "Já
não temos mais o santo". Mas, pela manhã, inexplicavelmente, o navio
ainda se encontrava no porto. Sinal evidente que Deus queria que morresse na
Bretanha.
Depois de dez dias de agonia,
assistido pelos amigos, pelos irmãos dominicanos e pelas damas da corte da
Duquesa da Bretanha, entregou sua bela e combativa alma a Deus, com 69 anos de
idade e várias décadas de luta no cumprimento de sua missão. Era o dia 5 de
abril de 1419.
O processo de canonização
começou no dia seguinte à sua morte e Roma reconheceu como fidedignos 873
milagres.
Foi elevado à honra dos altares
em 1455 pelo Papa Calisto III, o qual recebera, muito antes de ocupar a Sé de
Pedro, uma profecia do Santo. Com efeito, durante uma das pregações que este
último fez em Valência, entre a multidão dos que se aproximavam de São Vicente
Ferrer para se encomendar às suas orações, prestou atenção em um sacerdote, que
lhe pedia também a caridade de uma prece, ao qual o grande taumaturgo dirigiu
as seguintes palavras: "Eu te felicito, meu filho. Tendes presente que
és chamado a ser um dia a glória de tua pátria e de tua família, pois serás
revestido da mais alta dignidade a que pode chegar um homem mortal. E eu mesmo
serei, após minha morte, objeto de tua particular veneração".
Em outra oportunidade, São
Vicente Ferrer cumprimentou um jovem franciscano, a quem disse: "Oh!
Vós estareis nos altares antes do que eu". Tratava-se do futuro São
Bernardino de Siena, canonizado em 1450.
Queira o Anjo do
Apocalipse, como costumava se auto-intitular São Vicente Ferrer, operar
novos e mais portentosos milagres para nossa época, incomparavelmente mais
corrompida e endurecida que a dele pelos pecados dos indivíduos, das sociedades
e de seus governantes.
Fonte: Catolicismo
Fonte: Catolicismo
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