terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Reflexões sobre o Apocalipse, de R.P. J. M. Mestre

Um grande guia escatólico, claro e suscito, ainda mais útil para esclarecer a respeito da crise em que a Igreja se encontra neste momento da historia, em que em Deus estabeleceu que vivêssemos.


                                               Reflexões sobre o Apocalipse


"[N. da P.] O texto seguinte é um trecho de uma carta escrita por nosso amigo, o Pe. José Maria Mestre, ao Rafael Castela Santos, do inteligente Blog "A Casa de Sarto", onde foi originalmente publicada.

... Dou-lhe minha opinião. É a seguinte: de modo geral, penso que deveríamos descartar todo Milenarismo, quer material (condenado pela Igreja como herético) quer espiritual (que a Igreja não permite ensinar e, de todo modo, afirmou não se poder ensinar com segurança). É certo que o Padre Castellani, no que toca o Apocalipse, nos dá uma interpretação muito sólida, pois se baseia em tudo o que de claro disseram os Santos Padres, e gozou de uma singular penetração na compreensão dos acontecimentos modernos para a aplicação das profecias do Apocalipse. Parece-me que poucos autores se poderão consultar que sejam tão luminosos quanto ele. Mas, quando advoga em favor do Milenarismo, devemos tomá-lo com cuidado. E isso por quatro razões:


1. A primeira é que esta doutrina de dois mil anos de reinado visível de Cristo, com seus santos e com a prévia ressurreição dos mesmos, e da conseqüente Igreja dos dois mil anos, foi censurada pela Igreja. Poder-se-ia alegar que o documento do Santo Ofício do ano 1947 é local e que não proíbe inteiramente esta doutrina, mas que se limita a afirmar que não se pode ensiná-la com segurança etc; mas o espírito é claro: a Igreja jamais criaria entraves a que se ensinasse uma doutrina verdadeira, que reconhecesse como parte do depósito que lhe há sido confiado. E quanto à doutrina milenarista espiritual, não quer a Igreja que se difunda, que se ensine, que se sustente (não me lembro os termos exatos do decreto do Santo Ofício).

2. A segunda é que, conforme o dizer do Papa Pio XII, a Igreja não pode deixar de ensinar, e menos ainda deixar por muito tempo em esquecimento uma doutrina que venha dos Apóstolos e faça parte do depósito das verdades católicas (tal é o argumento que utiliza na definição do dogma da Assunção de Nossa Senhora). Ora, a doutrina do Milenarismo, mesmo mitigado ou espiritual, foi quase unanimemente relegada ao ostracismo pelos doutores há quinze séculos. É certo que alguns Padres da Igreja (oito, se bem me lembro) o professaram, acreditando falsamente, por São Papias, que era doutrina recebida dos Apóstolos; e, por esse motivo, a Igreja não o condenará jamais, isto é, pelo respeito devido a tais Padres; contudo, não é menos certo que a Igreja deixou de ensiná-lo desde S. Jerônimo e S. Agostinho.

3. A terceira é que, teologicamente, a doutrina do Milenarismo espiritual é como uma "materialização da esperança", segundo uma tendência nitidamente judaica; isto é, pretende colocar o objeto da esperança nesta terra, ainda que de maneira elevada, quando, na realidade, a esperança não aponta absolutamente para os bens de aqui embaixo, senão que aponta e suspira unicamente por realidades que não são deste mundo.

4. A quarta e última é que, em matéria de exegese, é incorreta a atitude de se querer explicar as passagens claras da Escritura pelas difíceis e obscuras; o normal é fazer o contrário, explicar as passagens obscuras pelas claras. Ora, nas diferentes passagens em que a revelação nos fala dos últimos tempos, o reino milenar reina justamente por sua ausência. Tais são os dois conhecidos textos do Apocalipse sinóptico (especialmente, S. Mateus cap. 24), e o da segunda epístola aos Tessalonicenses. Nosso Senhor, depois de descrever a perseguição e tribulação dos últimos dias, apresenta, ato contínuo, o Juízo Final, sem qualquer interlúdio de mil anos; igualmente São Paulo, quando descreve o que falta antes da segunda vinda do Cristo, a Parusia, diz simplesmente que, primeiro, há de vir a apostasia, depois, o homem do pecado ou Anticristo e, por fim, a epifania ou manifestação de Cristo. Não se encontra nenhuma menção clara e expressa de algo tão significativo quanto deveriam ser os mil anos do reinado de Cristo, se realmente tivessem de se realizar. É certo que se poderá dizer que tanto o Juízo Final como a manifestação de Cristo são o reino de Cristo que se prolonga por mil anos; mas a mim me parece que semelhante interpretação força o significado óbvio destes textos, apenas para fazer com que se encaixem na frase obscura e enigmática de Apocalipse, cap. 20. Muito mais natural seria explicar o capítulo 20 do livro do Apocalipse pelas passagens claras de Mateus cap. 24 e Tessalonicenses, 2.

É certamente legítimo tentar explicar como sucederão os últimos tempos da Igreja, pois, como acertadamente diz o Padre Castellani, a revelação, e mesmo o Apocalipse, não é um enigma insolúvel, mas uma profecia que, se é verdade que não se a entenderá perfeitamente até que se realize, tem um significado determinado que Deus nos estimula a indagar. Com a ajuda do que já sabiam os autores antigos, os Santos Padres, o Pe. Emmanuel1, o Pe. Castellani, e à luz dos acontecimentos atuais, nos é perfeitamente legítimo tentar esboçar a fisionomia dos últimos tempos, ainda que nem sempre acertemos e as coisas possam se apresentar de modo distinto. O esforço de intuir como serão as coisas nos ajudará, ao menos, a estar atentos aos sinais dos tempos, a estar vigilantes com nossa lâmpada acesa e com azeite ― o que não é pouca coisa. Ademais, como diz o Pe. Emmanuel, há uma graça especial que Deus concederá aos humildes (que Deus já vai concedendo), para adivinhar ou vislumbrar ao menos o essencial na grande trama dos acontecimentos. Deixando de lado, pois, o Milenarismo pelas razões que já disse, indico aqui os princípios que, em minha opinião, permitirão a compreensão dos últimos acontecimentos.

1o. Primeiro: parece-me indiscutível que o Apocalipse é um escrito profético e não simplesmente histórico, como pretenderam muitos autores em todos os tempos (v. g., uma descrição simbólica da queda da Sinagoga e do Paganismo, ou das perseguições romanas contra os cristãos etc). Com efeito, sempre se considerou que os livros do Novo Testamento se dividem, como os do Antigo, em históricos, sapienciais e proféticos; e somente ao Apocalipse se encaixaria bem o apelativo de profético entre os livros do Novo Testamento. A clave para a interpretação, a meu ver, está no próprio Apocalipse, capítulo 1, versículo 19: «Scribe quæ vidisti, et quæ sunt, et quæ oportet fieri post hæc»: Escreve, pois, as coisas que viste. E que viste? Duas coisas: as que são e as que hão de suceder depois destas.

Isso quer dizer que S. João viu uma dupla realidade, ou duas coisas que são uma: algo que já é, e algo que há de ser; e as viu a um só tempo, como superpostas, como por transparência: ou seja, viu algo que já é (poderia ser o império romano perseguidor do cristianismo) como figura de algo que tem de ser (toda a história da Igreja, perseguida, mas especialmente nos últimos tempos, a que se refere principalmente).   

2o. O segundo é uma aplicação do que foi dito: as cartas às sete igrejas não são apenas, como pretenderam esses autores de que lhe falava, uns avisos dirigidos por São João aos bispos das igrejas mencionadas, válidos apenas para aquele tempo e desligados do resto da obra ― que seria o único com alcance histórico (isso seria "o que já é")  ― mas que são, por sua vez, verdadeiras profecias das sete principais épocas da Igreja, com que o Apocalipse começa sua projeção histórica sobre o futuro (isso seria "o que há de ser"). O principal autor que assim expõe estas cartas, além de Castellani, é o venerável Bartolomeu Holtzhauser, em sua explicação do Apocalipse, de cujo pensamento há um extrato na introdução que Migne faz ao comentário de Cornélio Alápide sobre o Apocalipse (que, para infelicidade sua, está em latim).

3o. Prossigamos. É preciso levar em conta, como assinala Castellani, que as sete igrejas, como os demais setenários do Apocalipse, estão divididos em 4 + 2 (e o ternário, por sua vez, em 2 + 1, o último designando invariavelmente o tempo da Parusia). Nas igrejas, esta divisão estará assim assinalada: as quatro primeiras igrejas indicam as etapas de crescimento e desenvolvimento da Igreja ― são quatro igrejas pujantes e vigorosas, cada vez mais ― enquanto que as outras três são etapas de declive da Igreja: combatida, começa a cede ante seus inimigos, até que, na última Igreja, é dado ao Anticristo o poder de guerrear contra os Santos e vencê-los. E, por isso mesmo, parece-me indiscutível que as quatro primeiras igrejas são respectivamente, como diz o padre Holzhauser: Éfeso, a Igreja dos Apóstolos; Smirna, a Igreja dos Mártires; Pérgamo, a Igreja dos Doutores; Tiatira, a Igreja do Sacro Império Romano, quando a Igreja produz a civilização e a sociedade cristãs. Sardes, a quinta igreja, já é o começo do declive da Igreja, e pode ser identificada com a Igreja do Renascimento ou, de modo mais geral, com a Igreja da Revolução. Quando acaba a Igreja de Sardes e começa a de Filadélfia, e a quais épocas se identificam as Igrejas de Filadélfia e Laodicéia, that is the question! Isso não é fácil saber e não sei a que ponto se atualmente se pode saber com certeza. Sabemos somente que são etapas em que a Igreja irá declinando cada vez mais. Porém, avancemos um pouquinho.

4o. Parece-me fora de dúvida que a Igreja de Laodicéia é a Igreja dos últimos tempos. Nela, Nosso Senhor se descreve como estando já à porta e chamando: alusão clara à sua Parusia, como também a ceia a que convida a quem lhe abra é uma clara alusão ao banquete celestial, à glória celeste. E, por isso mesmo, a Igreja que a precede, que é a de Filadélfia, há de ser a Igreja que vai da Revolução aos acontecimentos que dão lugar aos últimos tempos.

5o. Esta Igreja de Filadélfia tem várias características. A primeira é surpreendente: é a única Igreja, junto com a de Smirna, que não recebe reprovações de Nosso Senhor. Ora, a Igreja de Smirna foi a Igreja dos Mártires. Por isso, parece bastante evidente que esta Igreja da Filadélfia se caracteriza, como a de Smirna, por padecer perseguições por parte dos poderes anticristãos e por sua fidelidade a Cristo em meio a esta perseguição. Ademais, é uma Igreja que  «modicam habes virtutem», que tem pouco poder, mas, perante a qual, abre-se uma porta que ninguém pode fechar. Pela porta aberta designa-se sempre, em São Paulo, uma ocasião propícia para a difusão do Evangelho: esta Igreja, portanto, terá uma oportunidade maravilhosa para difundir a doutrina católica com essa pequena fortaleza que lhe queda. E parece que, a esta ocasião de difundir o Evangelho, está vinculada a conversão dos judeus:«Ecce faciam illos [qui dicunt se Judæos esse] ut veniant, et adorent ante pedes tuos; et scient quia Ego dilexi te»: farei que aqueles que se chamam judeus venham e adorem prostrados diante de ti, e saibam que Eu te amei. Finalmente, a esta Igreja se recomenda, como já se disse das duas anteriores, perseverar na Tradição, isto é, manter o que recebeu: «Tene quod habes». É o único que lhe consigna o Senhor.

6o. Com estes dados, pode-se tentar duas interpretações possíveis. Dou as duas, ainda que me esforce por justificar a segunda, não porque tenha autoridade, mas porque me parece a mais provável. A primeira, que se não me equivoco é a de Bartolomeu Holzhauser, e a de Dom Williamson2, consiste em dizer que a quinta Igreja, Sardes, é a da Revolução. Inclui, então: a reforma protestante (1517), primeira etapa da revolução; o estabelecimento da maçonaria (1717), segunda etapa da revolução; o nascimento do comunismo (1917), terceira etapa da revolução, que há de acabar com um grande castigo, graças ao qual uma grande parte da humanidade perecerá e, a que sobrar viva, converter-se-á majoritariamente. A sexta igreja, Filadélfia, designaria, portanto, um grande triunfo da Igreja, sem precedente, que corresponderia ao triunfo do Coração Imaculado de Maria, que ainda não se realizou. Isto é, estaríamos ainda na igreja de Sardes. E a sétima Igreja, Laodicéia, seria a igreja do Anticristo, da feroz perseguição contra a Igreja (da qual a crise atual da Igreja não seria que uma prefiguração) e da Parusia.

A segunda interpretação, que á a minha (não sei quantos a compartilham) é a seguinte: a quinta igreja, que é a de Sardes, corresponderia, como explica Castellani, com o período que vai do Renascimento à Revolução francesa. Tem fama de viva (Re-Nascimento), mas está morta (pois é a ressurreição do culto do homem que substitui o culto de Deus). A sexta Igreja, Filadélfia, corresponderia à igreja que vai da Revolução francesa ao Concílio Vaticano II: uma igreja combatida, perseguida, como a de Smirna, mas fiel em dar testemunho a Nosso Senhor Jesus Cristo. E é fiel porque essa Igreja, apesar de não possuir muito poder, por ver-se perseguida por tantas partes (protestantismo, maçonaria e pelos poderes públicos), encontra uma porta aberta para difundir o Evangelho: é a Igreja das missões, que se difunde na Ásia e na África como talvez nunca antes havia se difundido. Ao mesmo tempo, esta Igreja conta com Papas extraordinários, de grande firmeza doutrinal, de Pio VII à Pio XII, que deram à Igreja grande prestígio, apesar de tão combatida. Na França, Alemanha, são freqüentes as conversões de judeus, para nada dizer das conversões dos protestantes. Poderíamos dizer que foi uma Igreja que não merece reprovações? Parece que sim: a perseguição a fez forte e generosa. Em meu modo de entender, esta Igreja termina com a morte de Pio XII, o último grande Papa, em cujo Pontificado a Igreja conservou um prestígio mundialmente reconhecido em todas as ordens. Com o Vaticano II, a Revolução francesa introduzida no seio da Igreja, começa a Igreja de Laodicéia, a Igreja da tibieza, a Igreja do ecumenismo e do indiferentismo religioso. O próprio Papa prega os idéias do Anticristo, os direitos do homem (como diz mais tarde o Apocalipse, é o falso profeta do dragão, a besta da terra, que tem pés de cordeiro, mas fala as palavras do dragão, e seduz a todas as gentes ― quem, senão o Papa ou a hierarquia da Igreja, tem esta influência a nível mundial? ― para que adorem a imagem da Besta). A Igreja, pois, divide-se em dois grupos, por assim dizer: a Igreja fiel, perseguida pelo dragão e figurada pela mulher revestida de sol, com a lua sob seus pés e uma coroa de estrelas em sua cabeça; e a "Igreja" infiel, isto é, uma estrutura prevaricadora, que guarda todas as aparências da verdadeira Igreja e que se serve de seus representantes, de seus santos, de sua jurisdição etc., e está figurada pela prostituta sentada sobre a besta, e que se prostitui com todos os reis da terra, com todas as ideologias anticristãs (ideais humanistas, islã, budismo, protestantismo, ONU etc). Portanto, esta etapa de Laodicéia é a que conhecerá, segundo minha interpretação, a apostasia das nações, a aparição do Anticristo, a perseguição feroz contra a Igreja, a conversão final dos judeus e a Parusia de Cristo com o Juízo final (esse é o significado de Laodicéia: julgamento dos povos).

7o. Trato de aduzir os argumentos (bastante pessoais, reconheço, por falta de autoridade) em que fundamento esta interpretação. Primeiro: sabemos que a Igreja, por ser o Corpo Místico de Cristo, há de viver os mesmos mistérios e sofrimentos que Cristo, sua Cabeça. Também deverá ter a sua Paixão. Mas, antes de viver sua Paixão, Cristo conheceu um triunfo, passageiro, porém sonoro: o domingo de Ramos. O mesmo deve acontecer com a Igreja Católica. Depois de conhecer este triunfo, a Igreja sofrerá sua Paixão, morrerá inclusive (aparentemente, não em realidade, assim como Cristo) e depois ressuscitará e se elevará aos céus. A ascensão da Igreja se identifica com a Parusia, com o Juízo Final, não cabe a menor dúvida. É preciso saber, pois, em que consistirá seu domingo de ramos, sua paixão e sua ressurreição. Segundo: A Virgem Maria profetizou em Fátima o triunfo final de seu Coração Imaculado. Este triunfo será um grande renascimento da Igreja, que não durará muito: "Ao mundo será dado um certo tempo de paz". Ora, como parece insinuar São Paulo em sua Epístola aos Romanos, este renascimento da Igreja se realizará pela conversão dos judeus, que será "uma como ressurreição dos mortos". Por isso, para mim é evidente que o triunfo do Coração Imaculado corresponde à ressurreição da Igreja após a sua Paixão, e esta ressurreição, por sua vez, consiste na conversão do povo judeu à Igreja Católica. Terceiro: segundo os Santos Padres, São Gregório, em particular, o Anticristo, que perseguirá a Igreja, chegará ao poder graças aos judeus, que colocarão a seu serviço imprensa e finanças, com as que manipulam o mundo. Mas, nesse momento, aparecerá o profeta Elias, que, com sua pregação incendiada converterá grande parte do povo judeu; de modo que o Anticristo, segue dizendo São Gregório Magno, por ódio, em sua perseguição contra a Igreja, perseguirá sobretudo os judeus convertidos. E na morte do Anticristo, quando o Senhor Jesus os tiver destruído com um sopro de sua boca, toda a gente, aliviada de sua cruel tirania, se converterá e ocorrerá um renascimento da Igreja como jamais se viu, que terá como estímulo a conversão maciça dos judeus que ainda não tiverem convertido. Depois, com esta paz temporal, voltará a tibieza dos cristãos e, a esta, seguirá a Parusia de Cristo. Com efeito, como não ver no profeta Elias o nexo Maria-judeus-triunfo da Igreja? Pois Elias é o grande profeta da Virgem no Antigo Testamento e é ele mesmo quem há de aparecer para a conversão dos judeus; por isso, a conversão dos judeus parece intimamente ligada à Mediação da Santíssima Virgem. E, uma vez que essa conversão será o maior triunfo conhecido pela Igreja durante toda sua história, como não identificá-la com o prometido triunfo do Coração Imaculado de Maria, que conduz ao triunfo de seu divino Filho?

8o. Desse modo, ordenaria os acontecimentos como segue: Primeiro, a sexta Igreja, que é a de Filadélfia, corresponderia com esta etapa precursora da paixão da Igreja: a Igreja já se vê condenada à morte pela Revolução, Como Cristo já havia sido condenado a morte pela Sinagoga (é de pequena fortaleza), mas conhece um tempo de triunfo temporal, como Cristo quando é triunfalmente recebido em Jerusalém. Este triunfo temporal da Igreja, quando já se encontra tão perseguida, manifesta-se pela grande porta que se abre pelo labor das missões, pelo prestígio internacional de que gozam seus Papas, pela difusão da devoção ao Sagrado Coração e à Santíssima Virgem, pelo extraordinário desenvolvimento da mariologia e dos dogmas marianos, pelas numerosas aparições de Nossa Senhora, pelos Congressos Eucarísticos internacionais, pelos chefes de estado católicos etc. etc. Triunfo da Igreja em um mundo já corrompido, em um mundo que bebeu profundamente dos princípios da Revolução. Assim como Cristo chora sobre Jerusalém nom momento mesmo em que é triunfalmente recebido, assim a Igreja há de chorar sobre estas sociedades corrompidas em seus princípios, nas quais, apesar de tudo, consegue este sonoro triunfo. Esta é a sexta igreja, irrepreensível, porque sofreu muito; irrepreensível, porque teve Papas de grande porte, firmíssimos doutrinariamente. Esta sexta Igreja acaba com a morte de Pio XII e, com Vaticano II, começa a sétima Igreja (tudo isto coincide, que coincidência! com o momento em que Roma deveria ter difundido o terceiro segredo, que falava destas coisas). Este Concílio dá início à paixão da Igreja: traição e abandono dos Apóstolos, isto é, dos bispos que se querem amoldar ao mundo moderno, ao mundo anticristão, e que, por isso, tornam-se traidores (é o caso dos mais audazes) ou, pelo menos, abandonam Nosso Senhor e se calam (é o caso da maioria). A Igreja entra em sua Paixão e sofre uma espantosa solidão. Vê a seus filhos totalmente desamparados, dispersos como ovelhas, por terem sido feridos por seus pastores. Esta Igreja, como Cristo, se vê acusada de falsos crimes, e cala como Cristo em sua paixão: Deus não lhe permite defender-se das calúnias que são dirigidas contra ela, pois não está em suas mãos nem a imprensa, nem as artes, nem a televisão, nem o rádio. esta Igreja vê difundir-se em seu nome a mais espantosa tibieza, característica de Laodicéia, sob os nomes de ecumenismo, de agiornamento, de liberdade religiosa. Esta Igreja vê como, em seu nome, se consuma a apostasia: a própria Santa Sé pede às nações católicas que abram mão de sua confissão em respeito às demais crenças. Seus pastores têm pés de cordeiro, sim, mas pronunciam as palavras do Dragão. o mistério de iniqüidade avança, e não me parece que tenha de interromper-se, como postularia a primeira interpretação (com o castigo geral e a conversão em massa antes do Anticristo), mas antes que prosseguirá sem solução de continuidade até encontrar seu apogeu na aparição do Anticristo, que, segundo São Paulo, será favorecido e permitido pela apostasia das nações. Aparece, pois, o Anticristo, a quem os judeus reconhecem como Messias e, graças aos quais, sobe ao poder e começa a perseguir a Igreja. Chegou o momento da crucifixão e morte da Igreja (morte aparente, é claro, mas talvez visível: voltará às catacumbas?). No entanto, ao mesmo tempo, aparece Elias e dá inicio à conversão do povo judeu. O Anticristo, furibundo, começa a perseguir os judeus conversos; no cúmulo de sua soberba, faz-se adorar como deus, mas é destruído por uma ação milagrosa de Deus. Com a morte do Anticristo, completa-se a conversão do povo judeu: chegamos ao momento da ressurreição da Igreja, tal como São Paulo a parece entender. Mas, não dura muito este tempo de paz e florescimento: levados pela comodidade, os cristãos voltam a cair na tibieza, volta a ganhar força o mistério de iniqüidade, e a única solução é a vinda e aparição pessoal de Cristo: a Parusia e o Juízo final: é a culminação da Igreja, da obra de Cristo e a assunção da Igreja ao céu, em companhia de Cristo.  

9o. Resumindo: Laodicéia é a Igreja dos últimos tempos; não é a Igreja do milênio, pois o Magistério reprova esta opinião; e, a meu parecer, estamos na sétima época da Igreja, mas não sou profeta (sobre isso podemos todos levarmos uma surpresa; segundo Holzhauser ― e Dom Williamson ― estaríamos ainda na quinta Igreja, na de Sardes; somente afirmaria estarmos na sexta quem julgasse que a sétima haveria de ser a do milênio).

 
Quando, em uma oportunidade, comentei esta minha "genial" tese com um sábio e prudente bispo, lá em Madri, se limitou a dizer-me: "muito bonita a sua interpretação; mas... pode prová-la?" É claro que não, é apenas uma opinião pessoal, que formei com minhas leituras e meditações".

Extraido de: http://permanencia.org.br/drupal/node/536

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