Pai
Nosso
11. —
Perguntamos: como é que Deus é Pai? E quais são nossas obrigações para com Ele
devido à sua paternidade? Chamamo-lo Pai, por causa do modo especial com que
nos criou. Criou-nos à sua imagem e semelhança, imagem e semelhanças estas, que
não imprimiu em nenhuma outra criatura inferior ao homem. Não é ele teu Pai,
teu Criador que te estabeleceu?(Dt 32, 6).
Deus merece
também o nome de Pai, por causa da
solicitude particular que tem para com os homens no governo do universo. Nada
escapa ao seu governo, sendo este exercido de modo diferente em relação a nós e
em relação às criaturas inferiores a nós. Os seres inferiores são governados
como escravos e nós como senhores. Ó Pai, diz o livro da Sabedoria (14, 3),
vossa providência rege e conduz todas as coisas; e (12, 18) a nós governa com
indulgência.
Deus,
enfim, tem direito ao nome de Pai, porque nos adotou. Enquanto não deu, às
outras criaturas, senão pequenas dádivas, a nós fez o dom de sua herança, e
isso porque somos seus filhos. São Paulo diz (Rm 8, 17): Porque somos seus
filhos, somos também seus herdeiros, e ainda (vers. 15): Vós não recebestes um
espírito de servidão, para recairdes no temor, mas recebestes um espírito de adoção,
que nos faz clamar: Abba, Pai.
12. — Em
primeiro lugar, devemos honrá-lo. Se sou Pai, diz o Senhor,por Malaquias, (1,6)
onde está a minha honra? Esta honra consiste em três coisas: a primeira em
relação aos nossos deveres para com Deus; a segunda, nossos deveres para
conosco mesmos; a terceira, nossos deveres para com o próximo.
A honra
devida ao Senhor consiste, primeiramente, em oferecer a Deus o dom do louvor,
seguindo o que está escrito (Sl 49, 23): O sacrifício de louvor me honrará.
Este louvor deve estar não só nos lábios, como no coração. Está escrito em
Isaías (29,13): Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de
mim. A honra devida a Deus, em segundo lugar, consiste na pureza de nossos
corpos, pois o Apóstolo escreveu: (1 Cor 6, 20) Glorificai e trazei a Deus em
vosso corpo. Consiste, enfim, esta honra, na equidade de nossos julgamentos
para com o próximo. O Salmo 98, 4 diz: Honrar o rei é amar a justiça.
13. — Em
segundo lugar, devemos imitar Deus, porque ele é nosso Pai. Diz o Senhor, em
Jeremias: (3, 9) chamar-me-eis Pai, e não deixareis de andar atrás de mim. A
imitação para ser perfeita requer três coisas.
A primeira
é o amor. Diz São Paulo (Ef 5, 1-2): Sede imitadores de Deus, como filhos bem
amados, e caminhai no amor. Este amor deve ser encontrado em nosso coração.
A segunda é
a misericórdia. O amor deve ser acompanhado da misericórdia, segundo a
recomendação de Jesus (Lc 6, 36): sede misericordiosos. E essa misericórdia
devemostrar-se nas obras.
A terceira
é a perfeição, porque o amor e a misericórdia devem ser perfeitos. Foi, com
efeito, depois de falar da disposição e das obrasservis, que o Senhor diz, no
Sermão da Montanha, (Mt 5, 48) Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é
perfeito.
14. — Em
terceiro lugar, devemos obediência a nosso Pai. Se nossos pais segundo a carne
nos castigam e nós os respeitamos, por mais forte razão devemos submeter-nos
aoPai dos espíritos, diz São Paulo (Heb 12,9).
A
obediência é devida ao Pai celeste por
causa de seu domínio soberano, sendo Ele o Senhor por excelência. Já os
Hebreus, ao pé do monte Sinai, declararam a Moisés (Ex 24, 7): Tudo o que disse
o Senhor nós o faremos e obedeceremos.
Nossa
obediência está também fundada no exemplo de Cristo que, sendo o verdadeiro
Filho de Deus, se fez obediente até à morte (Fp 2, 8).
Por fim
obedecemos por interesse próprio. David dizia de Deus: Tocarei diante do Senhor
que me escolheu(2 Rs 6,12).
15. — Em
quarto lugar e sempre, porque Deus é nosso Pai,devemos ser pacientes, quando
ele nos castiga. Meu filho, dizem os Provérbios (3, 11-12), não rejeites a
correção do Senhor; nem desanimes, quando Ele te corrige. O Senhor castiga
àquele que ama e se compraz nele como um Pai com seu filho.
16. — O
Senhor nos prescreveu dirigirmo-nos a seu Pai,na Oração Dominical,não somente
como «Pai»,mas também como «Pai nosso», fazendo isto, mostrou quais são nossos
deveres para com nossos próximos.
A nossos
próximos, devemos primeiramente o amor, porque são nossos irmãos; todos somos
filhos de Deus. Quem não ama seu irmão a quem vê, diz São João (I, 4,20), como
pode amar a Deus a quem não vê?
Em segundo
lugar, devemos respeito a nossos semelhantes. Temos um único Pai, diz Malaquias
(2, 10). Não foi um só Deus que nos criou? Por que haverás de desprezar teu
irmão?ESão Paulo escreve aos Romanos (12-10): Cuidai de respeitar-vos uns aos
outros.
A
realização desde duplo dever nos proporciona os mais desejáveis frutos, pois o
Cristo, nos escreve São Paulo (Heb 5,9) é, para todos os que lhe obedecem,
princípio de salvação eterna.
Fonte:
Sermões de São Tomás de Aquino, Edição Eletrônica Permanência, 2003
Saiba mais:
Saiba mais:
Sermões de São Tomás de Aquino – A OraçãoDominical Parte 2 (Que estais no céu)
Sermões de São Tomás de Aquino – A OraçãoDominical Parte 3 (Santificado seja vosso nome)
Sermões de São Tomás de Aquino – A OraçãoDominical Parte 3 (Santificado seja vosso nome)
Sermões de São Tomás de Aquino – A Oração Dominical Parte 5 (Seja feita a Vossa vontade, assim na terra comono céu)
Sermões de São Tomás de Aquino – A Oração Dominical Parte 6 (O pão nosso de cada dia, nos dai hoje )
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Sermões de São Tomás de Aquino – A Oração Dominical Parte 7 (Perdoai as nossas dividas, assim como perdoamos os nossos devedores)
Sermões de São Tomás de Aquino - A Oração Dominical Parte 8 (E não nos deixeis cair em tentação)
Sermões de São Tomás de Aquino - A Oração Dominical Parte 9 - Final (Mas livrai-nos do mal. Amém)
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