Professor Felipe Aquino
O
filme ‘Cristiada’, rodado no México, mostra a realidade desconhecida por muitos
católicos e é o filme mais assistido no país, mostrando o testemunho
impressionante dos mártires.
Maurício
Kuri, um jovem ator de quatorze anos, interpreta o mártir mexicano José Luis
Sánchez del Rio, o qual foi mártir na mesma idade. O ator está convencido de
que os católicos devem, hoje, defender a liberdade religiosa como fizeram os
cristeros, em 1926, no México. Ele disse que gostaria de fazer a mesma coisa,
“porque defender o que nós acreditamos é a coisa mais importante”. Ele
incentivou os católicos de todo o mundo a defender a liberdade religiosa, como
fizeram os fiéis do México durante a Guerra Cristera”.
“O
que está acontecendo, hoje, com a Igreja, diante dos ataque à liberdade
religiosa, é algo que acontecerá no final dos tempos. Sou católico e não me
envergonho, estou orgulhoso de sê-lo e de defender o Cristianismo. Há uma
frase, no filme, que eu adoro: Quem é você se não se levanta e se põe de pé
para defender o que acredita?”.
‘Cristiada’
narra a história da Guerra Cristera, no México, desatada pela legislação
anticlerical de 1926 e pela perseguição contra a Igreja Católica pelo então
presidente Plutarco Elías Calles.
As
leis proibiram as ordens religiosas, suprimiram a Companhia de Jesus e seus
colégios, impuseram a deportação e o encarceramento dos bispos ou sacerdotes
que protestassem. Privaram a Igreja dos direitos de propriedade e negaram
liberdade civil aos sacerdotes, incluindo o direito a um julgamento com um
jurado e o direito a voto. A cristandade mexicana sustentou uma luta de três
anos contra os sem-Deus da época. Os laicistas da Reforma impuseram a liberdade
para todos os cultos, exceto o católico, submetido ao controle do Estado.
O
Papa Pio IX condenou essas medidas, assim como Pio XI expressou sua admiração
pelos “cristeros”. Um mês depois, este Pontífice publicou a encíclica “Iniquis
afflictisque”, na qual denunciou as agressões sofridas pela Igreja no México:
”Já quase não resta liberdade alguma à Igreja [no México], e o exercício do
ministério sagrado se vê de tal maneira impedido, que é castigado, como se
fosse um delito capital com penas severíssimas”.
O
Papa elogiou, com entusiasmo, a “Liga Nacional Defensora de la Libertad
Religiosa”, espalhada “por toda a República, na qual seus membros trabalharam,
assiduamente, com o fim de ordenar e instruir a todos os católicos para opor
aos adversários uma frente única e solidíssima”. Ele se comoveu ante o heroísmo
dos católicos mexicanos: “Alguns destes adolescentes, destes jovens — como
conter as lágrimas ao pensá-lo — foram lançados à morte com o rosário na mão,
ao grito de Viva Cristo Rei! Inenarrável espetáculo que se oferece ao mundo,
aos anjos e aos homens”.
López
Beltrán, considerando os anos 1926-1929, dá o nome de 39 sacerdotes
assassinados, de um diácono e seis religiosos. Guillermo Havers nomeia os 46
sacerdotes diocesanos executados no mesmo período de tempo (“Testigos de Cristo
en México, 205-8”). Muitos desses padres pertenciam à arquidiocese de Guadalajara
ou à diocese de Colima.
Em
22 de novembro de 1992, João Paulo II beatificou vinte e dois desses sacerdotes
diocesanos mártires, destacando que “sua entrega ao Senhor e à Igreja era tão
firme que, ainda tendo a possibilidade de se ausentar de suas comunidades
durante o conflito armado, decidiram, a exemplo do Bom Pastor, permanecer entre
os seus para não privá-los da Eucaristia, da Palavra de Deus e do cuidado
pastoral.
A
Conferência do Episcopado Mexicano, no livro “Viva Cristo Rei!” (México, 1991),
dá-nos biografias dos 25 mártires que foram beatificados.
“A
solenidade de hoje [Cristo Rei]”, destacada por João Paulo II na cerimônia de
beatificação, instituída pelo Papa Pio XI, precisamente quando era mais
vigorosa a perseguição religiosa do México, penetrou muito fundo naquelas
comunidades eclesiásticas e deu uma força particular a esses mártires, de
maneira que, ao morrer, muitos gritavam: ‘Viva Cristo Rei!’”.
A
todos se deve acrescentar o nome do padre jesuíta Miguel Agustín Pro Juárez,
beatificado pelo Papa João Paulo II em 25 de setembro de 1988. Por ocasião de
um atentado contra o presidente Obregón, foram aprisionados e executados os
autores do golpe, e, com eles, também eliminados o Padre Pro e seu irmão
Humberto, os quais eram inocentes (23-11-1927).
Robert
Roya, em “The Catholic Martyrs of The Twentieth Century” (pag.17-18) [Os
mártires católicos do século XX] traz um relato impressionante:
“Dos
mártires daqueles dias, nenhum chamou tanto a atenção do público, no México e
no resto do mundo, como o Jesuíta Miguel Agustín Pro. Este foi morto por um pelotão de fuzilamento
em frente das câmeras dos jornais que o governo trouxera para gravar o que
esperava ser o constrangedor espetáculo de um padre implorando por
misericórdia. Foi uma das primeiras tentativas modernas de usar a mídia para a
manipulação da opinião pública com propósitos antirreligiosos. Mas, ao invés de
vacilar, Pro demonstrou grande dignidade, pedindo apenas a permissão de rezar
antes de morrer. Após alguns minutos de prece, levantou-se, ergueu seus braços
em forma de cruz – uma tradicional posição de oração mexicana – e, com voz
firme, nem desafiante nem desesperada, entoou, de forma comovente, palavras
que, desde então, tornaram-se famosas: ‘Viva Cristo Rei’.
“Longe
de ser um triunfo da propaganda para o governo, as fotografias da execução de
Pro tornaram-se objeto de devoção católica no México e de constrangimento do
governo por todo o mundo. Oficiais tentaram suprimir sua circulação, declarando
a mera posse de tais fotos um ato de traição, mas não obtiveram sucesso.”
“Dios
mío, ten misericordia de ellos. Dios mío, bendícelos. Señor, tu sabes que soy
inocente. Con todo mi corazón perdono a mis enemigos” [Deus meu, tende
misericórdia deles. Deus meu, abençoai-lhes. Senhor, tu sabes que sou inocente.
Com todo meu coração, perdoo a meus inimigos].
“O
pelotão dispara. Ouve-se ainda as últimas palavras de Pro, firmes, devotas:
“Viva Cristo Rei!”. Eis o brado dos cristeros. Futuramente, o exército callista
cortaria a língua dos mártires para que, ao morrer, não confessassem Cristo”.
“Pro
cai, mas não morre. Um soldado aproxima-se dele e lhe dá o último tiro”.
Podemos dizer por padre Pro: “Muero, pero Dios no muere!” [Morro, mas Deus não
morre!].
Nenhum comentário:
Postar um comentário