Pe. Gabriel Roschini, OSM
A própria razão nos diz que o primeiro entre
todos os predestinados devia ter sido aquela criatura racional que é a mais
vizinha a Cristo, causa eficiente, exemplar e final de nossa predestinação e,
por isso mesmo, chefe e cabeça dos predestinados. E tal criatura não foi,
porventura, Maria, sua Mãe? A razão nos diz, além disso, que Deus quer a existência
das criaturas conforme o grau de perfeição das mesmas, pelo qual se manifesta
sua glória, que é o fim da criação; de sorte que as criaturas mais nobres são
intencionadas por Deus antes das menos nobres. E a Virgem Santíssima, como Mãe
do Criador e Mãe universal das criaturas, não se acha, porventura, no pináculo
da nobreza e de toda grandeza? Portanto, Maria foi intencionada por Deus antes
de qualquer outra criatura. Uma consequência lógica desse princípio inconcusso
é que todas as criaturas foram criadas em vista de Cristo e de Maria, para a
glória dos dois, como um cortejo real para eles. "Para Maria", diz um
sermão atribuído a São Bernardo, “ foi criado todo o mundo” (P. L. 184, 1069).
E é justo: o que é menos nobre existe sempre para o que é mais nobre. E todo o
mundo, tomado em conjunto, não é, porventura, menos nobre do que Jesus e Maria?
Todo o mundo, portanto, está subordinado a Jesus e a Maria, e foi tirado do
nada em vista deles, para sua glória.
Tudo, portanto, pertence a Jesus e a Maria,
tudo deve servir a Jesus e a Maria. Outra consequência lógica do princípio
exposto acima é que Jesus e Maria foram desejados por Deus antes mesmo
(anterioridade lógica e não cronológica) dos anjos, antes de nossos primeiros
pais Adão e Eva, e antes da permissão divina de seu pecado; foram, portanto,
intencionados por Deus independentemente deles e de seu pecado. A Encarnação
redentora, portanto, no plano presente (único querido e realizado por Deus),
foi decretada por Deus em conexão, realmente, com a permissão do pecado de Adão
(e não só por si mesma, como pensam os Escotistas), porém não em dependência
real e verdadeira do pecado original (como pensam os Tomistas), de modo que,
sem o pecado original (ou seja, em um plano diverso do presente, no qual o
pecado está necessariamente incluído), a Encarnação não se teria realizado.
Essa dependência real e verdadeira da existência de Cristo e Maria em relação
ao pecado nos parece dever ser excluída absolutamente, pois que Cristo e Maria,
na ordem presente, foram o primum volitum,
a primeira coisa que Deus intencionou; todas as outras coisas foram ordenadas
necessariamente a eles e foram, portanto, desejadas ou permitidas por Deus em
razão e em vista deles.
Não são, portanto, eles que dependem realmente
das outras coisas; todas as outras coisas são as que dependem realmente deles.
Nem se diga que a Encarnação é, no plano presente, redentora e que pode ser
redentora sem haver um gênero humano a remir e, por isso, depende realmente,
como condição sine qua non, do gênero
humano, a remir. Certamente, a Encarnação é, na presente ordem, redentora e não
podia ser redentora sem haver um gênero humano a remir. Mas se deve notar que
Deus, que queria antes de tudo o grande bem que ia derivar da Encarnação
redentora, permitiu a queda do gênero humano, tornando-o assim sujeito apto da
redenção e ordenado à mesma. Existe, portanto, uma dependência real e
verdadeira do pecado em relação à Encarnação, e não desta em relação àquele.
Deus consentiu, portanto, o grande mal do pecado em vista do máximo bem que é a
Encarnação. Portanto, quis primeiro a Encarnação e, depois, em vista dessa,
permitiu o pecado. Jesus e Maria gozam, pois, de um primado perfeitíssimo, que
não depende de coisa alguma.
Instruções Marianas, pp 25-26
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