Profº Felipe Aquino
No final do século XIII surgiu em
Lieja, Bélgica, um Movimento Eucarístico cujo centro foi a Abadia de Cornillon
fundada em 1124 pelo Bispo Albero de Lieja. Este movimento deu origem a vários
costumes eucarísticos, como por exemplo a Exposição e Bênção do Santíssimo
Sacramento, o uso dos sinos durante a elevação na Missa e a festa do Corpus
Christi.
A Festa de Corpus Christi é a celebração em que
solenemente a Igreja comemora a instituição do Santíssimo Sacramento da
Eucaristia; sendo o único dia do ano que o Santíssimo Sacramento sai em
procissão às nossas ruas.
Propriamente é a Quinta-feira Santa o dia da
instituição, mas a lembrança da Paixão e Morte do Salvador não permite uma
celebração festiva. Por isso, é na Festa de Corpus Christi que os fiéis
agradecem e louvam a Deus pelo inestimável dom da Eucaristia, na qual o próprio
Senhor se faz presente como alimento e remédio de nossa alma. A Eucaristia é
fonte e centro de toda a vida cristã. Nela está contido todo o tesouro
espiritual da Igreja, o próprio Cristo.
A Festa de Corpus Christi surgiu no séc. XIII,
na Diocese de Liège, na Bélgica, por iniciativa da freira Juliana de Mont Cornillon,
(†1258) que recebia visões nas quais o próprio Jesus lhe pedia uma festa
litúrgica anual em honra do sacramento da Eucaristia.
Santa Juliana de Mont Cornillon, naquela época
priora da Abadia, nasceu em Retines perto de Liège, Bélgica em 1193. Ficou órfã
muito pequena e foi educada pelas freiras Agostinas em Mont Cornillon. Quando
cresceu, fez sua profissão religiosa e mais tarde foi superiora de sua
comunidade. Morreu em 5 de abril de 1258, na casa das monjas Cistercienses em
Fosses e foi enterrada em Villiers.
Desde jovem, Santa Juliana teve uma grande
veneração ao Santíssimo Sacramento. E sempre esperava que se tivesse uma festa
especial em sua honra. Este desejo se diz ter intensificado por uma visão que
teve da Igreja sob a aparêncai de lua cheia com uma mancha negra, que
significada a ausência dessa solenidade.
Juliana comunicou estas aparições a Dom Roberto
de Thorete, o então Bispo de Lieja, também ao douto Dominico Hugh, mais tarde
Cardeal Legado dos Países Baixos e Jacques Pantaleón, nessa época arquidiácono
de Lieja, mais tarde o Papa Urbano IV.
O Bispo Roberto ficou impressionado e, como
nesse tempo os bispos tinham o direito de ordenar festas para suas dioceses,
invocou um sínodo em 1246 e ordenou que a celebração fosse feita no ano seguinte.
Um monge de nome João escreveu o ofício para essa ocasão. O decreto está
preservado em Binterim (Denkwürdigkeiten, V.I. 276), junto com algumas partes
do ofício.
Dom Roberto não viveu para ser a realização de
sua ordem, já que morreu em 16 de outubro de 1246, mas a festa foi celebrada
pela primeira vez no ano seguinte na quinta-feira posterior à festa da
Santíssima Trindade. Mais tarde, um bispo alemão conheceu o costume e o
estendeu por toda a atual Alemanha.
Aconteceu, porém, que quando o Padre Pedro de
Praga, da Boêmia, celebrou uma Missa na cripta de Santa Cristina, em Bolsena,
Itália, aconteceu um milagre eucarístico: da hóstia consagrada começaram a cair
gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Alguns dizem que isto
ocorreu porque o padre teria duvidado da presença real de Cristo na
Eucaristia.
O Papa Urbano IV (1262-1264), que residia em
Orvieto, cidade próxima de Bolsena, onde vivia S. Tomás de Aquino, informado do
milagre, então, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a
Orvieto. Isso foi feito em procissão. Quando o Papa encontrou a Procissão na
entrada de Orvieto, teria então pronunciado diante da relíquia eucarística as
palavras: “Corpus Christi”.
Em 11 de agosto de 1264 o Papa emitiu a bula
"Transiturus de mundo", onde prescreveu que na quinta-feira após a
oitava de Pentecostes, fosse oficialmente celebrada a festa em honra do Corpo
do Senhor.
Em seguida, segundo alguns biógrafos, o Papa
Urbano IV encarregou um ofício - a liturgia das horas - a São Boaventura e a
Santo Tomás de Aquino; quando o Pontífice começou a ler em voz alta o ofício
feito por Santo Tomás, São Boa-ventura foi rasgando o seu em pedaços.
A morte do Papa Urbano IV (em 2 de outubro de
1264), um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou a difusão da festa.
Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e, no Concílio Geral de
Viena (1311), ordenou mais uma vez a adoção desta festa. Em 1317 é promulgada
uma recompilação de leis -por João XXII- e assim a festa é estendida a toda a
Igreja.
Em 1290 foi construída a belíssima Catedral de
Orvieto, em pedras pretas e brancas, chamada de "Lírio das
Catedrais". Antes disso, em 1247, realizou-se a primeira procissão
eucarística pelas ruas de Liège, como festa diocesana, tornando-se depois uma
festa litúrgica celebrada em toda a Bélgica, e depois, então, em toda o mundo,
no séc. XIV, quando o Papa Clemente V confirmou a Bula de Urbano IV, tornando a
Festa da Eucaristia um dever canônico mundial.
Em 1317, o Papa João XXII publicou na Constituição
Clementina o dever de se levar a Eucaristia em procissão pelas vias
públicas.
A partir da oficialização, a Festa de Corpus
Christi passou a ser celebrada todos os anos na primeira quinta-feira após o
domingo da Santíssima Trindade. A celebração normalmente tem início com a
missa, seguida pela procissão pelas ruas da cidade, que se encerra com a bênção
do Santíssimo.
Recomenda-se a todo católico participar dessa
Procissão por ser a mais importante de todas, pois é a única onde o próprio
Senhor sai às ruas para abençoar as pessoas, as famílias e a cidade.
Em muitos lugares criou-se o belo costume de
enfeitar as casas com oratórios e flores e as ruas com tapetes ornamentados,
tudo em honra do Senhor que vem visitar o seu povo. Tudo isto tem muito sentido
e deve ser preservado.
Começaram assim as grandes procissões
eucarísticas e também o culto a Jesus Sacramentado foi incrementado no mundo
todo através das adorações solenes, das visitas mais assíduas às Igrejas e da
multiplicação das bênçãos com o Santíssimo no ostensório por entre cânticos
cada vez mais admiráveis.
Surgiram também os Congressos Eucarísticos, as
Quarenta Horas de Adoração e inúmeras outras homenagens a Jesus na Eucaristia.
Muitos se converteram e todo o mundo católico.
O culto eucarístico não começou no século XIII,
pois começou desde o Cenáculo, quando Jesus instituiu a sagrada Eucaristia. Mas
faltava, porém, uma festa especial para agradecer ao "Prisioneiro dos
Sacrários" esta presença inefável que o faz contemporâneo de todas as
gerações cristãs.
Era necessário, realmente, uma data distinta
para que se manifestasse um culto especial ao Corpo e Sangue de Cristo,
atraindo d’Ele novas graças e bênçãos para os que caminham neste mundo.
As procissões
Nenhum dos decretos fala da procissão com o
Santíssimo como um aspecto da celebração. Porém estas procissões foram dotadas
de indulgências pelos Papas Martinho V e Eugênio IV, e se fizeram bastante
comuns a partir do século XIV.
A festa foi aceita em Cologne em 1306; em Worms
a adoptaram em 1315; em Strasburg em 1316. Na Inglaterra foi introduzida da
Bélgica entre 1320 e 1325. Nos Estados Unidos e nos outros países a solenidade
era celebrada no domingo depois do domingo da Santíssima Trindade.
Na Igreja grega a festa de Corpus Christi é
conhecida nos calendários dos sírios, armênios, coptos, melquitas e os rutínios
da Galícia, Calábria e Sicília.
Finalmente, o Concílio de Trento declara que
muito piedosa e religiosamente foi introduzida na Igreja de Deus o costume, que
todos os anos, determinado dia festivo, seja celebrado este excelso e venerável
sacramento com singular veneração e solenidade; e reverente e honorificamente
seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos. Nisto os cristãos
expressam sua gratidão e memória por tão inefável e verdadeiramente divino
benefício, pelo qual se faz novamente presente a vitória e triunfo sobre a morte
e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ofício composto por São Tomás de Aquino
Citando:
Seqüência - "Lauda Sion" em
Português
Terra, exulta de alegria,
louva teu pastor e guia
com teus hinos, tua voz!
Tanto possas, tanto ouses,
em louvá-lo não repouses:
sempre excede do teu louvor!
Hoje a Igreja te convida:
ao pão vivo que dá vida
vem com ela celebrar!
Este pão, que o mundo o creia!,
por Jesus, na santa ceia,
foi entregue aos que escolheu.
Nosso júbilo cantemos,
nosso amor manifestemos,
pois transborda o coração!
Quão solene a festa, o dia,
que da Santa Eucaristia
nos recorda a instituição!
Novo Rei e nova mesa,
nova Páscoa e realeza,
foi-se a Páscoa dos judeus.
Era sombra o antigo povo,
o que é velho cede ao novo;
foge a noite, chega a luz.
O que o Cristo fez na ceia,
manda à Igreja que o rodeia,
repeti-lo até voltar.
Seu preceito conhecemos:
pão e vinho consagremos
para nossa salvação.
Faz-se carne o pão de trigo,
faz-se sangue o vinho amigo:
deve-o crer todo cristão.
Se não vês nem compreendes,
gosto e vista tu transcendes,
elevado pela fé.
Pão e vinho, eis o que vemos;
mas ao Cristo é que nós temos
em tão ínfimos sinais...
Alimento verdadeiro,
permanece o Cristo inteiro
quer no vinho, quer no pão.
É por todos recebido,
não em parte ou dividido,
pois inteiro é que se dá!
Um ou mil comungam dele,
tanto este quanto aquele:
multiplica-se o Senhor.
Dá-se ao bom como ao perverso,
mas o efeito é bem diverso:
vida e morte traz em si...
Pensa bem: igual comida,
se ao que é bom enche de vida,
traz a morte para o mau.
Eis a hóstia dividida.
Quem hesita, quem duvida?
Como é toda o autor da vida,
a partícula também.
Jesus não é atingido:
o sinal é que é partido,
mas não é diminuído,
nem se muda o que contém.
Eis o pão que os anjos comem
transformado em pão do homem;
só os filhos o consomem:
não será lançado aos cães!
Em sinais prefigurado,
por Abraão foi imolado,
no cordeiro aos pais foi dado,
no deserto foi maná...
Bom pastor, pão de verdade,
piedade, ó Jesus, piedade,
conservai-nos na unidade,
extingui nossa orfandade,
transportai-nos para o Pai!
Aos mortais dando comida,
dais também o pão da vida;
que a família assim nutrida
seja um dia reunida
aos convivas lá no céu!
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