Stat crux dum
volvitur orbis é o lema da Ordem dos Cartuxos. É
latim para "o mundo gira enquanto a cruz permanece". É um
reconhecimento que o Evangelho e atemporal e eterno. Mas o Evangelho também é
histórico. O Evangelho é parte da história, pois Cristo entrou na história por
meio de sua Encarnação. Em todas as eras a Igreja apresentou as verdades
atemporais do Evangelho de uma forma que o mundo que a cerca pudesse
compreender. Ela usa diferentes métodos quando necessário, mas sempre com a
mesma mensagem.
Essa compreensão do
Evangelho é desafiada por dois partidos ideológicos. De um lado temos
aqueles que sustentam que a Igreja deve se "adequar ao mundo"
abandonando seus ensinamentos incômodos. É lamentável como pessoas comuns
deixam a Igreja por discordarem sobre questões políticas. Se tornaram tão
convencidas de suas próprias visões políticas que elas tratam as visões
políticas da Igreja como desatualizadas e falsas. É uma rejeição do Evangelho
atemporal.
Por outro lado temos aqueles que tratam o Evangelho como mero projeto
pessoal, como se a maneira de descobrir a verdade do Evangelho fosse unir a
Bíblia com o significado que você imagina ser o certo, desconsiderando milênios
de reflexão dos cristãos sobre determinadas matérias. Essa é uma rejeição do Evangelho
enquanto realidade histórica. Tal atitude se assemelha tentativa de construir
seu próprio Estado baseado em sua própria interpretação da Constituição Estados
Unidos da America. Não importa quanto você se esforce, não importa quanto
pareça convincente para alguns desavisados, não importa quanto se aproxime do
espírito da Constituição, no fim das contas não seria o mesmo país, mas uma
falsificação. Assim como a Constituição de um Estado está relacionada com a
formação desse, essa relação é ainda mais estreita a respeito do Evangelho e a
Igreja.
Ambas as rejeições - da atemporalidade e historicidade do Evangelho -
são respondidas pela Bíblia.
Cinco Promessas do Evangelho a Igreja
Pós-Apostólica
Muitas promessas foram feitas para
assegurar-nos que as verdades do Evangelho permanecerão incorruptíveis para
sempre. Isso significa que não é necessário abandonar a verdade para se adaptar
ao mundo ou restaurar aquilo que foi corrompido. Olhemos para cinco temas em
que as Escrituras apontam ao futuro para nos dizer como seria a Igreja
pós-apostólica.
1 - A Igreja Sempre Possuirá a Plenitude da
Verdade
Na Ultima Ceia, Jesus promete enviar
o Espírito Santo para guiar a Igreja a plenitude da verdade (São João
14,25-26):
"Disse-vos estas coisas
enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará
em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho
dito".
Ele prometeu
que o Espírito da Verdade, o Espírito Santo, permanecerá conosco para sempre
(São João 14,16-17):
"E eu
rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente
convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque
não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e
estará em vós".
Essa é
verdadeiramente uma dupla promessa: o Espírito Santo permanecerá na Igreja para
sempre e preservará a Igreja na plenitude da verdade.
2 - Seremos
Chamados a Permanecer na Igreja
É uma
promessa e uma oração. Também na Ultima Ceia, Jesus reza por nós, os cristãos
da Igreja Apostólica (São João 17,18-23):
"Como
tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. Santifico-me por eles
para que também eles sejam santificados pela verdade. Não rogo somente por
eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que
todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também
eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que
me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que
sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste,
como amaste a mim".
Há uma
promessa nessa oração: mesmo apesar da infidelidade dos cristãos que se separam
da única Esposa de Cristo e não corresponderam ao chamado da unidade, a Igreja
sempre preservará sua unicidade pois a Glória de Cristo foi dada a ela. Ele
consagrou a Igreja na verdade. É apenas por sua graça que estabeleceu a Igreja
na verdade que somos chamados a permanecer nela para sempre.
Se de alguma
fosse possível que a Igreja pudesse perder a plenitude da verdade seriamos
chamados não a permanecer, mas sim a nos tornarmos hereges ou cismáticos. As
Escrituras condenam ambas atitudes, pois ao nos instruir a permanecer na
verdade, na unidade dessa Igreja que é guardiã da verdade, Cristo deixa claro
que tais escolhas (heresia e cisma) jamais seriam lícitas.
3 - O
Sacrifício Eucarístico será Oferecido Continuamente
A Páscoa foi
estabelecida como celebração perpétua, para eternidade (Êxodo 12,13-14):
O sangue
sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de proteção): vendo o
sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor,
quando eu ferir o Egito. Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com
uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma
instituição perpétua.
Cristo não
aboliu a Páscoa, pelo contrário, ele a cumpriu e aperfeiçoou. Em sua Paixão e
Morte, "Cristo, nosso cordeiro pascoal, foi sacrificado" ( I
Coríntios 5,7). Seu Sacrifício Pascoal começa na Ultima Ceia - que, não
coincidentemente, é uma ceia pascoal (São Lucas 22,14-16):
"Chegada
que foi a hora, Jesus pôs-se à mesa, e com ele os apóstolos. Disse-lhes: Tenho
desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer. Pois vos
digo: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no Reino de Deus".
A descrição
de São Lucas sobre a Ultima Ceia é cheia de significado, como quando ele diz
tudo isso aconteceu no "dia dos pães sem fermento, em que o cordeiro
pascoal deveria ser sacrificado" (São Lucas 22,7). Ele claramente tem dois
cordeiros em mente: o cordeiro da Antiga Aliança e o Cordeiro de Deus que tira
os pecados do mundo (São João 1,29).
Na Páscoa
judaica há dois ações separadas realizadas em dois dias distintos: (1) o
cordeiro é morto e (2) o cordeiro é comido. Esses correspondem a (1)
Sexta-Feira Santa e (2) a Ultima Ceia e a Santa Missa.
Na Sexta
Feira Santa a morte de Jesus na Cruz acontece de "uma vez por todas"
(Romanos 6,10; Hebreus 7,27). Mas a Ultima Ceia não é designada por ter
ocorrido de uma ver por todas, pelo contrário, Cristo instrui seus Apóstolos a
perpetua-la (São Lucas 22,19-20):
"Tomou
em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto
é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo
tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança em
meu sangue, que é derramado por vós..."
Por estas
palavras o memorial da Páscoa se torna memorial da Ultima Ceia, memorial do
Sacrifício de Cristo. Sacrifício este se faz presente em cada Santa
Missa.
São Paulo ao
explicar a Liturgia Eucarística, afirma que o Sacrifício Eucarístico nos
incorpora no Corpo e Sangue de Cristo (I Coríntios 10,16-17):
"O
cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o
pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um único
pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós
comungamos do mesmo pão".
Além de
cumprir a promessa do Antigo Testamento de que o Sacrifício da Páscoa
continuaria por todas as gerações, o Sacrifício Eucarístico também cumpri a
profecia de Malaquias 1,11 sobre a Nova Aliança:
"Porque,
do nascente ao poente, meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se
oferecem ao meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras. Sim, grande é o
meu nome entre as nações - diz o Senhor dos exércitos".
Ouvimos isso
na Didaquê do primeiro século, que descreve a Missa Dominical (Didaquê,
XIV):
"Reúna-se
no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus
pecados, para que o sacrifício seja puro. Aquele que está brigado com seu
companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício
oferecido não seja profanado. Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse:
"Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque
sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as
nações".
Sobre isso
somos assegurados que a Missa continuará, dia após dia, semana após semana, do
tempo de Cristo até o fim do mundo a tornar presente o Sacrifício do Senhor.
Além disso uma leitura atenta de São Lucas 22,14-16, deixa claro que o grande
cumprimento da Ultima Ceia se dará "no Reino de Deus". Essa é uma
referencia ao Banquete Eucarístico de Jesus o Noivo com a Igreja, sua Noiva, na
qual nossa união será consumada (Apocalipse 19,9).
4 - A Virgem
Maria será Louvada por Todas as Gerações
Na famosa
oração de Maria, o Magnificat, ela proclama (São Lucas 1,46b-49):
E Maria
disse: Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus,
meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me
proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas
aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.
Maria está
tanto profetizando o que acontecerá - que todas as gerações de cristãos a
louvarão como bem-aventurada - quanto nos deixando saber que isso deve
acontecer. Ela diz que esse louvor é devido a Santidade de Deus. Em outras
palavras Maria nos diz, que honra-la não diminui a Santidade de Deus, mas
decorre da própria Santidade do Altíssimo.
Pare e pense
sobre o que isso significa. Mary não está falando sobre o louvor morno, dos
cristãos mornos modernos, que temem que ao louvar Maria, de alguma forma
poderia deixar seu Filho com ciúmes. Maria fala sobre todas essas gerações a
horaram sem temor,
Por exemplo
o louvor oferecido por São Gregório Taumaturgo, no terceiro século (Homília de
São Gregório Taumaturgo, acerca da Santíssima Mãe de Deus, Sempre Virgem, 21):
"Um
novo esplendor da luz eterna agora brilha diante de nós na harmonia
dessas palavras. Agora é adequada me perguntar, conforme a maneira da
Virgem Santa, a quem, é sabia e decente antes de todas as coisas o anjo deu
saudação assim: "Sê feliz e se alegre-se"; porque com ela são
vivificados e ao vivem, todos os tesouros da graça. Entre todas as nações só
ela era ao mesmo tempo virgem e mãe sem conhecer homem. Santa de corpo e alma.
Entre todas as nações só ela foi feita digna de trazer Deus; só que ela
carregava Aquele que sustenta tudo Sua Palavra".
A Liturgia
tanto do Ocidente quanto principalmente do Oriente louvam a Virgem Maria com
termos fortes. Por exemplo na Divina Liturgia de São João Crisóstomo, a
liturgia eucarística mais comum os católicos orientais bizantinos,
reza-se:
"É
realmente justo bendizer-te, Theotokos [Mãe de Deus; literalmente Portadora de
Deus], sempre abençoada, toda pura e mãe do nosso Deus. Mais venerável que os
Querubins, e além da comparação com o mais glorioso do que o Serafins, sem
corrupção destes à luz a Deus, o Verbo. Nós vos exaltamos, verdadeira
Theotokos".
É isto que a
Virgem Maria quis dizer quando afirmou que todas as gerações a proclamarão
bem-aventurada.
5 - A Igreja
Nunca será Abandonada ou Derrotada
Uma ultima
promessa presente na descrição de São João da Ultima Ceia. Em São João 14,18,
Jesus promete "Não vos deixarei órfãos. Voltarei a vós". Ele cumpriu
essa promessa permanecendo conosco conforme a ultima linha do Evangelho de São
Mateus (São Mateus 28.20):
"Ensinai-as
a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até
o fim do mundo".
E na sua
promessa a Igreja, Jesus disse a São Pedro (São Mateus 16,18-19):
"E eu
te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as
portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19. Eu te darei as chaves do
Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus".
Ainda que
possamos deixar a Igreja (por cisma, heresia ou apostasia) a Igreja permanecerá
para sempre. E não apenas permanecerá para sempre, mas permanecerá na verdade.
Protestantismo,
Progressismo e a Promessa de Deus
Compare o
que Cristo e Maria prometem nas Escrituras com o que os reformadores e os
progressistas (dentro e fora da Igreja) oferecem. Em termos gerais, os
reformadores protestantes negaram cada uma dessas promessas, afirmando que:
1 - A Igreja
não possuí a plenitude verdade;
2 - Foi
moralmente correto (mesmo necessário) romper com a Igreja;
3 - A Missa
não é um verdadeiro sacrifício, e deve ser eliminada;
4 - O tipo
de devoção a Maria oferecida ao longo das gerações anteriores era ofensiva a
glória de Deus, e deve ser interrompida.
5 - Toda a
Igreja caiu em apostasia, em algum momento no passado.
Progressistas
modernos também negam cada uma das promessas (embora alguns não estejam cientes
das consequências de suas afirmações), mas por razões diferentes.
Os
reformadores estavam interessados em deixar de lado os ensinamentos do presente para tentar
recuperar os do passado, na crença de que a
verdadeira fé tinha perdido.
Os
progressistas querem abandonar os ensinamentos do presente para os ensinamentos
do futuro, na crença de que a sociedade, e do cristianismo, se dirijam a algum
sistema.
Ambos os
lados estão errados. O Deus Vivo prometeu uma Igreja, consagrados na verdade,
que nos confirma na verdade no passado, presente e futuro. A Igreja, a sua
ortodoxia, sua veneração Maria e ao Santo Sacrifício da Missa jamais se
apartarão. Nem é a nossa necessidade de ser parte dessa grande Igreja. O mundo
gira, no entanto a Cruz permanece.
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