João Carlos
Na abside da
Basílica de São Pedro, em Roma, encontra-se omonumento à Cátedra do Apóstolo,
obra adulta de Bernini, realizada em forma de um grande trono de bronze,
sustentado pelas imagens de quatro Doutores da Igreja, dois do Ocidente, Santo
Agostinho e Santo Ambrósio, e dois do Oriente, São João Crisóstomo e Santo
Atanásio.
A Cátedra
de São Pedro faz referência a um antigo costume romano. Estes
celebravam seus defuntos em fevereiro, concluindo suas comemorações a 22 desse
mês. Junto aos túmulos, tomavam um repasto sagrado, deixando uma cadeira vazia
em representação do antepassado falecido. Rapidamente, o dia 22 de
fevereiro passou a recordar a “cátedra” de seu defunto mais ilustre — São Pedro
—, junto de cujo túmulo tomavam a refeição eucarística.
A partir do
século IV, a expressão “cátedra” também passou a significar a sede fixa do
Bispo, posto na igreja matriz de uma diocese, que por isso é chamada de
catedral, e constitui o símbolo da autoridade e do magistério do Bispo.
A presença
dessas quatro figuras de Bernini, sustentando a cátedra petrina, evoca a
importância que esses homens tiveram — e têm — para a fé da Igreja.
Agostinho e Ambrósio já figuravam como as grandes luminárias do
Ocidente, desde 1298, ao lado de Jerônimo e Gregório
I, o Grande. A partir de 1568, São Pio V juntou-lhes outras quatro
personalidades eminentes do Oriente: Atanásio, João
Crisóstomo, Basílio, o Grande, e Gregório Nazianzeno.
No mesmo
ano, Tomás de Aquino foi associado à companhia tão seleta, na
qualidade de único Doutor até então não pertencente à Antiguidade. É Doctor
Communis, tanto para o Ocidente quanto para o Oriente.
Aqui seria
excessivo falar de todos eles detalhadamente. Mas faço questão de pinçar uma
frase de cada um, colhidas do livro Os Doutores da Igreja, de Jean
Huscenot:
1) Atanásio,
Patriarca de Alexandria (298-373), cinco vezes exilado, responde aos policiais
que perguntavam por ele: “Vi Atanásio sim. Ele está pertíssimo!”
2) Basílio
Magno, Bispo de Cesareia (330-379): criador de um hospital, advertia os que
se despreocupam do próximo: “Não há dúvida de que oprimes tantas pessoas
quantas as que poderias ajudar.”
3) Gregório
Nazianzeno, Arcebispo de Constantinopla (329-373): amicíssimo de Basílio,
confessa: “Cada qual tem o seu ponto fraco; o meu é a amizade!”
4) Ambrósio,
bispo de Milão (340-397): apelidado de Doutor da Virgindade, dirá a
quem não preza o matrimônio: “Quem condena o vínculo conjugal condena também os
filhos e a sociedade.”
5) João Crisóstomo, Arcebispo de Constantinopla (347-407): sem papas na língua, acabaria sendo perseguido por todos os lados. Dentre suas invectivas, destaca-se esta contra os avarentos: “Ide ao altar da avareza e lá sentireis um cheiro forte de sangue humano. (…) É que a avareza quer a alma da vítima e também a do seu sacrificador.”
5) João Crisóstomo, Arcebispo de Constantinopla (347-407): sem papas na língua, acabaria sendo perseguido por todos os lados. Dentre suas invectivas, destaca-se esta contra os avarentos: “Ide ao altar da avareza e lá sentireis um cheiro forte de sangue humano. (…) É que a avareza quer a alma da vítima e também a do seu sacrificador.”
6) Jerônimo (347-420):
após ter sua casa incendiada pelos invejosos hereges pelagianos, escreve: “Vale
mais mendigar o pão do que perder a fé.”
7) Doctor
gratiæ Agostinho, bispo de Hipona (354-430): a humildade
intelectual da maior inteligência do Mundo Antigo o levou a revisar sua vasta
obra: “Quero submeter a um escrupuloso exame tudo o que escrevi — livros,
cartas ou tratados — e assinalar severamente as suas faltas… Julgar-me a mim
próprio, na presença do único Mestre, é o meu único recurso para escapar ao
rigos dos seus juízos.”
8) Gregório
I Magno, Papa de Roma (540-604): considerado o último dos romanos,
transmitiu à Idade Média a herança da Antiguidade que naufragava. Homem
versátil e capaz, reivindicava para si o título exclusivo de “Servo dos servos
de Deus”, reconhecendo que lhe coubera estar na transição das épocas: “Sacudido
pelas vagas das questões, sinto a tempestade roncar por cima da minha cabeça.”
Para finalizar,
um conselho do Doctor Angelicus, Tomás de Aquino (1225-1274), acerca do presente tema:
“Ora, Deus comunica a verdade pelo brilho da sua natureza;
os doutores são apenas seus ministros,
os quais, portanto, devem ser puros, inteligentes, fervorosos e dóceis.
Por si mesmos, não têm nenhuma suficiência,
mas podem esperar tudo de Deus”.
os doutores são apenas seus ministros,
os quais, portanto, devem ser puros, inteligentes, fervorosos e dóceis.
Por si mesmos, não têm nenhuma suficiência,
mas podem esperar tudo de Deus”.
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