sábado, 17 de novembro de 2012

As Igrejas Católicas Orientais



Por Philippe A. Gebara Tavares


“É necessário que também os filhos da Igreja Católica de tradição latina possam conhecer em plenitude este tesouro e sentir assim, juntamente com o Papa, a paixão por que seja restituída à Igreja e ao mundo a manifestação plena da catolicidade da Igreja, que não se exprime apenas por uma única tradição”(Papa João Paulo II, Carta Orientale Lumen, 1)

Embora não seja algo conhecido amplamente no Brasil e no Ocidente, a Igreja Católica Apostólica Romana não é só a Igreja de Rito Romano, mas é uma comunhão de 23 Igrejas: uma Ocidental e 22 Orientais. Ora, “Igreja”, em uma das 4 acepções possíveis, significa uma união de dioceses da mesma tradição cultural – o que, no caso, engloba diferentes aspectos como liturgia, espiritualidade, teologia, disciplina e organização. A soma de todas as dioceses do Ocidente, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Washington, de Paris, etc, formam a Igreja Latina, que celebra de modo geral em rito latino (ou romano). Mas já no Oriente, suas diferentes dioceses não podem ser resumidas em um só todo, existindo 22 igrejas católicas orientais, celebrando em 1 dos 6 ritos orientais existentes (descritos à frente). Uma dessas Igrejas é a Igreja Católica Greco-Melquita, da qual faço parte.


Os Códigos Canônicos chamam as 23 igrejas que compõem a Igreja Católica de igrejas “sui juris”, ou seja, igrejas autônomas, que podem legislar sobre tudo que lhe é próprio, como sobre seu rito e sua disciplina, mas não sobre o que é universal a todas, que são os dogmas. Quem faz tradicionalmente essa legislação de uma igreja “sui juris” é o seu respectivo Sínodo, ou seja, a reunião de seus bispos, sob a chefia de seu Patriarca ou de seu Arcebispo-maior (títulos entre os quais há pouca diferença prática)[1].

A Igreja Melquita é chefiada por Sua Beatitude o Patriarca Gregório III, e a Igreja Ucraniana, presente igualmente aqui no Brasil, de forma predominante no Sul, por Sua Beatitude o Arcebispo-Maior Dom Sviatoslav Shevchuk. O Patriarca da Igreja Latina é S.S. o Papa Bento XVI, embora seu papel se confunda com o de líder da Igreja Católica. Apesar disso, Igreja Católica não se confunde, nem pode se confundir com Igreja Latina, embora isso tenha acontecido por muito tempo na história, causando sérios prejuízos aos católicos orientais.

Só  no Concílio Vaticano II, todos os ritos da Igreja Católica foram considerados com a mesma dignidade. Antes, muitos consideravam o Romano superior aos demais. Os orientais eram meramente tolerados.

Vejamos agora quais são os ritos da Igreja, de acordo com suas famílias litúrgicas[2]

1. Família latina:
a) rito romano ordinário
b) rito romano extraordinário
c) rito ambrosiano
d) rito moçárabe
e) rito bracarense
f) rito cartuxo

2. Família ritual bizantina: apenas o rito bizantino, usado pelas seguintes igrejas:
·         Igreja Católica Bizantina Albanesa
·         Igreja Católica Bizantina Bielorrussa
·         Igreja Greco-Católica Búlgara
·         Igreja Greco-Católica Croata
·         Igreja Católica Bizantina Grega
·         Igreja Greco-Católica Melquita
·         Igreja Greco-Católica Húngara
·         Igreja Católica Ítalo-Albanesa
·         Igreja Católica Bizantina Macedônia
·         Igreja Greco-Católica Romena unida com Roma
·         Igreja Católica Russa
·         Igreja Católica Rutena
·         Igreja Greco-Católica Eslovaca
·         Igreja Greco-Católica Ucraniana
3. Família ritual armênia: apenas o rito armênio, usado só pela Igreja Armênia.

4. Família ritual alexandrina: apenas o rito copta, usado pelas Igrejas Copta e Etíope.

5. Família ritual siríaca ou antioquena: 
a) rito siríaco, usado pelas Igrejas Siríaca e Malankar;

b) rito caldaico (ou assiríaco, ou ainda siríaco oriental), usado pelas Igrejas Caldaica e Malabar;

c) rito maronita, usado só pela Igreja Maronita.

Com exceção da Igreja Maronita, todas igrejas orientais católicas possuem uma igreja equivalente separada de Roma, podendo ser ortodoxa, ou não (dependendo de quantos concílios ecumênicos aceitou ao longo da história). Se aceitar os 7 primeiros concílios ecumênicos, é ortodoxa; se aceitar apenas 3 concílios, é pré-calcedoniana, se aceitar apenas 2, é pré-efesiana. Por exemplo, a Igreja Melquita tem como contraparte a Igreja Ortodoxa Antioquena, e a Igreja Católica Armênia tem como contraparte a Igreja Armênia Apostólica, que é pré-calcedoniana[3].

Embora a particularidade das igrejas orientais seja mais marcadamente possuir um rito diferente do rito romano, ela envolve, como foi dito, outros aspectos. Como não podemos descrever nem resumi-los, por serem tão vastos, limitar-nos-emos a alguns exemplos. Não obstante possuam os mesmos 7 sacramentos, a forma de administrá-los por vezes difere (além das orações diferentes). Batismo, Crisma e Eucaristia são sempre ministrados juntos, ao bebê ou à criança que é apresentada à Igreja para se tornar cristã. A Eucaristia é consagrada com pão fermentado, e não ázimo (à exceção da Igreja Maronita e Armênia). A Crisma pode ser conferida pelo padre, não só pelo bispo. Já na parte da espiritualidade, ao lado do rosário, de origem latina, que é muito praticado, existe outros cordões de oração, como o assim popularizado no Brasil “terço bizantino”. Quanto à disciplina, o exemplo que chama mais à atenção é o celibato opcional para candidatos ao sacerdócio: se o homem, antes de ser ordenado, quiser se casar, pode fazê-lo e, em seguida, comprovada sua fidelidade aos deveres do matrimônio, ser ordenado padre. Por fim, na parte do governo, como já expomos, as Igrejas Orientais são regidas por seus Santos Sínodos, sendo o Patriarca apenas executor e uma autoridade moral e espiritual.

As igrejas orientais católicas no Brasil são a Igreja Melquita, com igrejas no Sudeste e uma no Nordeste, a Igreja Ucraniana, com 300 igrejas no Sul e uma em São Paulo, a Igreja Siríaca, em Belo Horizonte, a Igreja Maronita, com uma presença  bem espalhada pelo país,  a Igreja Armênia e a Igreja Russa, em São Paulo. Aqui no Rio, só há Igreja Melquita, a Paróquia de S. Basílio, na República do Líbano, no Centro, e a Igreja Maronita, a Paróquia Nossa Senhora do Líbano, na Conde de Bonfim, na Tijuca (com uma missão no Leblon).

Indicação de links:

–  As igrejas católicas orientais, por Pe. Fernando António sj. (jesuíta de rito bizantino):

-        Comunidade da Igreja Greco-Melquita Católica no Orkut:

-        Diocese Maronita

-        Paróquia Melquita de S. Basílio do Rio de Janeiro


[1] Dependendo de vicissitudes históricas, uma igreja oriental pode ser liderada ainda apenas por um bispo, não tendo sínodo, ou mesmo por nenhum bispo próprio, como é o caso da Igreja Russa, cujos fiéis de cada região estão sob a responsabilidade de um bispo latino local, encarregado desta tarefa (é o Ordinário das Igrejas Orientais).

[2] Crédito a Rafael Vitola.

[3] Pré-calcedonianas são também as igrejas Copta, Etíope, e Siríaca. E pré-efesiana é a Igreja Assíria Oriental.

*Fonte da foto: shevlinsebastian.blogspot.com/ Fonte do texto: Sinaxe

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