Por
Philippe A. Gebara Tavares
“É necessário que também os filhos da
Igreja Católica de tradição latina possam conhecer em plenitude este tesouro e
sentir assim, juntamente com o Papa, a paixão por que seja restituída à Igreja
e ao mundo a manifestação plena da catolicidade da Igreja, que não se exprime
apenas por uma única tradição”(Papa João Paulo II, Carta Orientale
Lumen, 1)
Embora
não seja algo conhecido amplamente no Brasil e no Ocidente, a Igreja Católica
Apostólica Romana não é só a Igreja de Rito Romano, mas é uma comunhão de 23
Igrejas: uma Ocidental e 22 Orientais. Ora, “Igreja”, em uma das 4 acepções
possíveis, significa uma união de dioceses da mesma tradição cultural – o que,
no caso, engloba diferentes aspectos como liturgia, espiritualidade, teologia,
disciplina e organização. A soma de todas as dioceses do Ocidente, do Rio de
Janeiro, de São Paulo, de Washington, de Paris, etc, formam a Igreja Latina,
que celebra de modo geral em rito latino (ou romano). Mas já no Oriente, suas
diferentes dioceses não podem ser resumidas em um só todo, existindo 22 igrejas
católicas orientais, celebrando em 1 dos 6 ritos orientais existentes
(descritos à frente). Uma dessas Igrejas é a Igreja Católica
Greco-Melquita, da qual faço parte.
Os
Códigos Canônicos chamam as 23 igrejas que compõem a Igreja Católica de igrejas
“sui juris”, ou seja, igrejas autônomas, que podem legislar sobre tudo que lhe
é próprio, como sobre seu rito e sua disciplina, mas não sobre o que é
universal a todas, que são os dogmas. Quem faz tradicionalmente essa legislação
de uma igreja “sui juris” é o seu respectivo Sínodo, ou seja, a reunião de seus
bispos, sob a chefia de seu Patriarca ou de seu Arcebispo-maior (títulos entre
os quais há pouca diferença prática)[1].
A
Igreja Melquita é chefiada por Sua Beatitude o Patriarca Gregório III, e a
Igreja Ucraniana, presente igualmente aqui no Brasil, de forma predominante no
Sul, por Sua Beatitude o Arcebispo-Maior Dom Sviatoslav Shevchuk. O Patriarca
da Igreja Latina é S.S. o Papa Bento XVI, embora seu papel se confunda com o de
líder da Igreja Católica. Apesar disso, Igreja Católica não se confunde, nem
pode se confundir com Igreja Latina, embora isso tenha acontecido por muito
tempo na história, causando sérios prejuízos aos católicos orientais.
Só
no Concílio Vaticano II, todos os ritos da Igreja Católica foram considerados
com a mesma dignidade. Antes, muitos consideravam o Romano superior aos demais.
Os orientais eram meramente tolerados.
Vejamos
agora quais são os ritos da Igreja, de acordo com suas famílias litúrgicas[2]
1.
Família latina:
a) rito romano ordinário
b) rito romano extraordinário
c) rito ambrosiano
d) rito moçárabe
e) rito bracarense
a) rito romano ordinário
b) rito romano extraordinário
c) rito ambrosiano
d) rito moçárabe
e) rito bracarense
f)
rito cartuxo
2.
Família ritual bizantina: apenas o rito
bizantino, usado pelas seguintes igrejas:
·
Igreja Católica Bizantina Albanesa
·
Igreja Católica Bizantina Bielorrussa
·
Igreja Greco-Católica Búlgara
·
Igreja Greco-Católica Croata
·
Igreja Católica Bizantina Grega
·
Igreja Greco-Católica Melquita
·
Igreja Greco-Católica Húngara
·
Igreja Católica Ítalo-Albanesa
·
Igreja Católica Bizantina Macedônia
·
Igreja Greco-Católica Romena unida
com Roma
·
Igreja Católica Russa
·
Igreja Católica Rutena
·
Igreja Greco-Católica Eslovaca
·
Igreja Greco-Católica Ucraniana
3.
Família ritual armênia: apenas o rito
armênio, usado só pela Igreja Armênia.
4.
Família ritual alexandrina: apenas o rito
copta, usado pelas Igrejas Copta e Etíope.
5.
Família ritual siríaca ou antioquena:
a) rito siríaco, usado pelas Igrejas Siríaca e Malankar;
a) rito siríaco, usado pelas Igrejas Siríaca e Malankar;
b) rito caldaico (ou assiríaco, ou ainda siríaco oriental), usado pelas Igrejas Caldaica e Malabar;
c) rito maronita, usado só pela Igreja Maronita.
Com
exceção da Igreja Maronita, todas igrejas orientais católicas possuem uma
igreja equivalente separada de Roma, podendo ser ortodoxa, ou não (dependendo
de quantos concílios ecumênicos aceitou ao longo da história). Se aceitar os 7
primeiros concílios ecumênicos, é ortodoxa; se aceitar apenas 3 concílios, é
pré-calcedoniana, se aceitar apenas 2, é pré-efesiana. Por exemplo, a Igreja
Melquita tem como contraparte a Igreja Ortodoxa Antioquena, e a Igreja Católica
Armênia tem como contraparte a Igreja Armênia Apostólica, que é
pré-calcedoniana[3].
Embora
a particularidade das igrejas orientais seja mais marcadamente possuir um rito
diferente do rito romano, ela envolve, como foi dito, outros aspectos. Como não
podemos descrever nem resumi-los, por serem tão vastos, limitar-nos-emos a
alguns exemplos. Não obstante possuam os mesmos 7 sacramentos, a forma de
administrá-los por vezes difere (além das orações diferentes). Batismo, Crisma
e Eucaristia são sempre ministrados juntos, ao bebê ou à criança que é
apresentada à Igreja para se tornar cristã. A Eucaristia é consagrada com pão
fermentado, e não ázimo (à exceção da Igreja Maronita e Armênia). A Crisma pode
ser conferida pelo padre, não só pelo bispo. Já na parte da espiritualidade, ao
lado do rosário, de origem latina, que é muito praticado, existe outros cordões
de oração, como o assim popularizado no Brasil “terço bizantino”. Quanto à
disciplina, o exemplo que chama mais à atenção é o celibato opcional para
candidatos ao sacerdócio: se o homem, antes de ser ordenado, quiser
se casar, pode fazê-lo e, em seguida, comprovada sua fidelidade aos deveres do
matrimônio, ser ordenado padre. Por fim, na parte do governo, como já expomos,
as Igrejas Orientais são regidas por seus Santos Sínodos, sendo o Patriarca
apenas executor e uma autoridade moral e espiritual.
As
igrejas orientais católicas no Brasil são a Igreja Melquita, com igrejas no
Sudeste e uma no Nordeste, a Igreja Ucraniana, com 300 igrejas no Sul e uma em
São Paulo, a Igreja Siríaca, em Belo Horizonte, a Igreja Maronita, com uma
presença bem espalhada pelo país, a Igreja Armênia e a Igreja
Russa, em São Paulo. Aqui no Rio, só há Igreja Melquita, a Paróquia de S.
Basílio, na República do Líbano, no Centro, e a Igreja Maronita, a Paróquia
Nossa Senhora do Líbano, na Conde de Bonfim, na Tijuca (com uma missão no
Leblon).
Indicação
de links:
–
As igrejas católicas orientais, por Pe. Fernando António sj. (jesuíta de rito
bizantino):
-
Comunidade da Igreja Greco-Melquita Católica no Orkut:
-
Diocese Maronita
-
Paróquia Melquita de S. Basílio do Rio de Janeiro
[1] Dependendo de vicissitudes
históricas, uma igreja oriental pode ser liderada ainda apenas por um bispo,
não tendo sínodo, ou mesmo por nenhum bispo próprio, como é o caso da Igreja
Russa, cujos fiéis de cada região estão sob a responsabilidade de um bispo
latino local, encarregado desta tarefa (é o Ordinário das Igrejas Orientais).
[2] Crédito a Rafael Vitola.
[3] Pré-calcedonianas são também as
igrejas Copta, Etíope, e Siríaca. E pré-efesiana é a Igreja Assíria Oriental.
*Fonte
da foto: shevlinsebastian.blogspot.com/ Fonte do texto: Sinaxe
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